sexta-feira, 10 de agosto de 2012

CHINA, EUROPA E BRASIL: LIGANDO OS PONTOS

O texto do Nomura, comparando as perspectivas futuras de Brasil e México, segue rodando, com forte repercussão dentro e fora do governo. Tem sentido, pois expõe a céu aberto as deficiências de um modelo de que parecia dar certo por mera vontade dos agentes políticos quando na verdade só deu certo devido à boa maré que inverteu o fluxo de rendas em favor das trocas brasileiras com o resto do mundo. Ao contrário de aproveitar o bom omento para procurar realizar um amplo conjunto de reformas inevitáveis para garantir nosso futuro o governo preferiu o auto-elogio e as frases falsas, estilo pega trouxa, tipo ciclo virtuoso da economia brasileira. Frase repeita à exaustão durante os últimos anos. 

2010 foi o que foi: estelionato com a implantação de uma tapa-buraco para viabilizar o retorno vitorioso de Lula em 2014. Dilma está às vésperas de novas medidas. Seu problema é que para mudar para melhor precisa mudar todo o conceito de gestão pública, de governança, do papel do Estado no desenvolvimento e fazer um intenso trabalho para desatrelar aos nós que nos prendem ao arcaico nacional-desenvolvimentismo e à lógica geo-estratégica bolivariana. Enfim, Dilma precisa deixar de ser Dilma. Será que ela consegue? Se ela quisesse será que o PT estaria disposto a abrir mão de seu controle sobre a máquina do Estado e de sua profunda aliança com setores importantes do poder real?

De concreto a queda da atividade econômica na China desmonta o tão elogiado modelo de auto-sustentação sul-sul que poderia desbancar rapidamente o Centro e nos colocar a nós como coadjuvantes desse novo centro ampliado pela semi-periferia e apoiado nos paradigmas do desmonte do poder do Império do Mal norteamericano.

Junho não trás boas notícias apenas para o Brasil. A atividade econômica na China despenca com forte queda nas exportações, importações, crédito interno, embarques para Europa e estagnação dos embarques para os EUA. Ditadura que é vamos ver como o governo chinês poderá lidar com uma possível queda mais acentuada da atividade econômica. Lá como aqui havia a ilusão de que os mercados de consumo emergentes, com sua nova classe média, poderiam tudo e seriam capazes de sustentar um crescimento autônomo. A se ver.

O artigo de Alcoforado, que acabamos de publicar, liga outros pontos e expõe questão centrais: 
- O Estado não pode tudo. Está muito longe de poder e sem uma forte sinergia entre o setor público e privado dificilmente a máquina vai à frente;
- O foco de um crescimento sustentável tem que estar na produção de conhecimento próprio, soberano. Modelos fundados na simples inserção nas redes produtivas mundiais não são propícios ao desenvolvimentos dos países da semi-periferia;
- Não existe desenvolvimento sem investimento, sem instituições sólidas e condições estruturais;
- Não existe qualidade de desenvolvimento sem o novo, sem a inovação.

Como diz a música: As coisas estão no mundo é só preciso apreender.

Demetrio Carneiro