Não tenho qualquer dúvida
que a transição de uma economia de alto consumo de combustíveis fósseis e todo
o seu estilo de vida orientado para a individualidade sobre quatro rodas para
uma economia verde de baixo carbono será difícil e envolverá necessariamente o
amplo ciclo de destruição criativa, nos moldes parciais do conceito de
Schumpeter.
Parciais, pois Schumpeter
via nisso o resultado da intensa disputa entre produtores de inovação, não
falava em capitalistas. Certo que a disputa existe, mas até aqui os ciclos de
destruição criativa eram espontâneos, digamos assim. Vinha dos embates de
lógica de buscar o grande lucro dado pelo monopólio momentâneo de uma ideia
original. Momentâneo, pois mesmo a ideia original acabaria por envelhecer por meio de sua cópia,
quebrando o monopólio e trazendo o lucro para a média do mercado.
Essa discussão é
importante, pois agora é apenas a disputa orgânica entre inovadores. Há a
necessidade de um certo tipo de inovação que oriente a um certo tipo de
qualidade de vida. Estamos falando de todas as transformações tecnológicas
necessárias para que se chegue a uma economia autenticamente verde. Claro que essas
transformações precisam ser comandadas por transformações culturais e
políticas, mas elas serão necessárias.
Esta fase de transição
onde não ficam claras as inclinações que podem dirigir as tendências é a mais
difícil. Inovadores se destacam por saberem antecipar nichos e essa antecipação
vem da capacidade de perceber, pegar no ar, tendências.
Seja como for as
tecnologias que fundam esse conceito atual de produção e consumo tendem a ser
substituídas, num ciclo de destruição criativa.
A questão passa a ser o
nosso papel, enquanto um país, nesse processo. Podemos ser apenas observadores
oportunistas recebendo dos verdadeiros criadores as tecnologias, poupando anos
de pesquisa e recursos de investimento que são escassos. Nesse caso será apenas
uma nova forme de inserção nas cadeias produtivas mundiais e ficaremos como
estamos hoje e estivemos ontem subsidiários do Centro. Ou podemos ser atores
estimulando nossos inovadores e investindo pesado na produção de conhecimento
soberano, recusando o papel de semi-periferia que a história nos oferece.
Se estivermos no primeiro
caso, como somos detentores de amplas fontes de recursos somos automaticamente uma bola da vez e, de uma forma ou de outra, os capitais virão fartos e
acessíveis. Apenas manteremos os mesmo esquemas de dependência, os mesmo
padrões de concentração de renda etc.
Para estarmos no segundo
caso as questões institucionais são relevantes. Questões institucionais não costumam
ser nossa praia e nós as temos em grande escala.
Mais de um ano atrás em
abril de 2010, publiquei um post. De longe, entre os mais de 1.100 que
publiquei nessa segunda fase do Alternativa, é o mais lido.Chama-se “Energia
Verde: a lei 150 de Ontário”. O post falava sobre uma lei que havia sido
aprovada na Província de Ontário, no Canadá, de dava toda uma nova regulação
viabilizando o surgimento de todo um novo segmento de indústria e prestação de
serviços. Dentre um dos pontos mais importantes estava a possibilidade de
compra pelo sistema da energia produzida em pequenas usinas.
Agora uma matéria na mídia
“Brasil
pode anunciar para breve fábrica para energia solar”, anuncia a possibilidade
da instalação de uma indústria verticalizada para a produção de painéis
solares. A notícia não esclarece quem são os investidores e se o conhecimento é
soberano ou não, mas, seja como for, essa fábrica só se tornou viável quando o
monopólio da venda de energia foi quebrado e abriu-se a possibilidade de o
sistema nacional comprar energia de pequenos produtores. Assim como foi feito
em Ontário.
É disso que precisamos:
romper amarras institucionais que colocam o Estado no centro de tudo.
Demetrio Carneiro