sexta-feira, 24 de agosto de 2012

PRESENTE E FUTURO: A PREDIÇÃO

A predição em geral não é uma atividade das mais fáceis. Intervêm fatores fora do controle e da capacidade de avaliação do observador. Na realidade o próprio observador acaba contaminando a predição com suas próprias expectativas.

Há predições nada sérias, por exemplo aquelas destinadas à mídia, normalmente voltadas para criar um clima, essas são as governamentais e de alguns órgãos corporativos interessados. Do lado da crítica ao governo também existem as pouco sérias e mais voltadas para criar um clima de insatisfação.

Tudo isto por conta dessa natural dificuldade de olhar para os dados de curto prazo e tentar tirar deles algumas conclusão.

Em sequência o Índice da Atividade Econômica do Banco Central, IBC Br, estima uma melhora da atividade econômica, registrando uma alta de 0,75% ( junho sobre maio). Nessa linha o segundo semestre(abril,maio,junho) foi superior em 38% em relação ao primeiro. As vendas no varejo, também junho sobre maio, cresceram 1,5%, quando a expectativa era de queda. Números positivo da atividade ocorrida sessenta dias atrás, mas divulgados quase que simultaneamente ao anúncio do pacote da infraestrutura, formando um quadro básico de leitura otimista do governo.

A leitura dos mais de 124 mil empregos de saldo líquido de empregos do Caged no mês de julho (com significativa alta no setor de transformação - junho - 9968 e julho - 24.718, núcleo do modelo econômico, e serviços- junho - 30.141 e julho - 39.060, carro chefe da geração nacional de empregos -gerou 59% dos empregos entre maio de 2011 e julho de 2012.) foi na mesma direção otimista. Muito embora a curva dos empregos gerados não dê margem a tanto otimismo.



Outro dado apresentado foi o da desocupação (IBGE, com base na Pesquisa Mensal de Emprego em SP, RJ, Recife, BH, Salvador e Porto Alegre). A informação foi prejudicada pela greve dos funcionários e não trouxe dados completos. De modo geral mostra que a taxa manteve-se abaixo de 6%, refletindo a queda histórica. 

Contudo, confrontando os números dos empregos líquido do Caged para dezembro de 2011 (o menor saldo líquido, na verdade negativo, de empregos entre maio de 2011 e julho de 2012: -418 mil) com as taxas de desocupação do IBGE para o mesmo mês (as mais baixas no período que vai de maio de 2011 a julho de 2012) dá para ficar claro o desalinhamento das informações. O que seria de esperar já que o Caged envolve a estatística oficial de empregos formais em todo o pais e a taxa de desocupação a informação prestada pelo pesquisado em algumas capitais e soma emprego formal e informal.

Saiu agora Índice de Confiança do Consumidor da FGV, mostrando uma queda, maio sobre junho, de 121,6 para 120,4. É a quarta queda seguida do índice. O índice é de uso recente e ainda precisa acumular mais consistência, mas está ai. 


Outra informação relevante, e com impacto na avaliação dos resultados das medidas econômicas contra-cíclicas do governo, vem do Brasil Econômico: Exportações não respondem à desvalorização do real". 

"Nos primeiros sete meses do ano, o setor de manufatura exportou 0,7% menos que no mesmo período de 2011. Até julho, a valorização da moeda americana foi de 16,6%.No sentido oposto do comércio internacional, as importações de manufatura aumentaram 6% relação ao mesmo período do ano passado. O resultado incrementou o déficit do setor em 50%."


O processo de desvalorização do real envolve a compra de dólares e a sua manutenção em caixa. Há um custo para manter esses dólares em caixa, como também há um custo para a emissão de títulos públicos cuja venda gera recursos para comprar estes dólares. Toda a alegação do governo é que a desvalorização do real é instrumento substancial para manter o ritmo de exportação dos manufaturados brasileiros. O que não deixa de ser uma boa forma de passar por fora do Custo-Brasil, da baixíssima competividade dos manufaturados brasileiros, de manter uma economia fechada etc. Certamente agora o governo dirá que se não houvesse desvalorizado seria pior...

A predição não é um jogo de azar. Independentemente dos resultados imediatos o que fica muito claro é a insuficiência das medidas governamentais e que não se trata de vontade de acertar, mas principalmente de coragem política e esta falta a este governo. Todas as mudanças necessárias ainda estão ai para serem feitas. Este é o desafio mais importante.

Demetrio Carneiro