Democracia implica em instituições estáveis e um jogo de poder apoiado em regras evidentes e aceitas por todos. Até mesmo os desafiantes da coalizão vencedora jogam sob essas regras. Por mais que Dilma venha a errar ela terá sua cota e irá até o último dia de mandato. É assim que se joga, mas e depois...
Na medida em que a política monetária foi sendo posta como uma forma de compensar a expansão da política fiscal o nacional-desenvolvimentismo sempre foi procurando meios de ser criativo, mas é preciso reconhecer que o regime de metas de inflação tornou-se um impecilho. Gastar muito além do equilíbrio e ainda assim manter a inflação controlada implica em altas taxas de juros para servirem de contra-peso. Nesse sentido ceder ao chamado da ideologia e assumir que tudo de ruim vem é do setor financeiro e que os juros remuneram os banqueiros e rentistas deixando o povo na miséria só aponta para uma saída: Desfazer o regime de metas.
Por enquanto apenas se reconhece que não tem cumprimento de metas para 2011, 2012 e 2013. Ano que vem é eleitoral e o PT precisa se confirmar de qualquer forma nas prefeituras como uma força capaz de rivalizar ao PMDB. Sendo assim muito provavelmente 2014 também já era. Dilma provavelmente irá ser a presidente que terá passado todo o seu mandato fora das metas. Se um governo qualquer que ele seja pode controlar seus gastos não dá para dizer o mesmo da inflação. Esse governo flerta com o abismo. E o pior é que nem mesmo o flerte vai garantir mais crescimento. O mais provável é que o ambiente internacional conturbado vá se somar à instabilidade monetária e que a soma dos dois acabe refletindo no crescimento.
O que parece mais previsível agora é um governo medíocre com inflação em alta e baixo crescimento. Independentemente das desculpas que possam dar. Para Lula era mais fácil, pois podia e culpou FHC, o neoliberalismo e as rosas amarelas de Marte. Para Dilma é mais complicado, pois ela joga pesado e terá que assumir o ônus de ter mudado a regra do jogo no meio do jogo. Tanto melhor para Lula, talvez, mas com certeza tanto melhor para o PMDB. Os estrategistas do PT sabem disso, mesmo que não reconheçam e é por isso que as eleições de 2012 terão significado diferente de outras eleições municipais. O PT precisa ganhar nos municípios para garantir que tenha cacife em 2014. É por isso também que o gasto em 2012, combinado com a leitura ideológica da economia, colocará em risco a capacidade desse governo de controlar o processo inflacionário. 2012 é o cachorro correndo atrás do rabo.
Demetrio Carneiro