Nos últimos anos têm sido frequentes fortes declarações de presidentes brasileiros naquilo que se refira às relações internacionais. Tanto Lula como Dilma assumiram posturas de dura crítica com relação aos países do Centro, principalmente após a crise de 2008.
Na leitura de ambos a responsabilidade é dos países do Centro e cabe àqueles achar as soluções. Aqui pela Semi-periferia maravilha. As commodities fluem, o mercado interno bomba. Se algo der errado não será por nossa culpa. Será por culpa deles, os banqueiros de olhos azúis.
Claro, são declarações dadas de olho nessa aparente caminhada para o centro de países emergentes do grupo BRIC + África do Sul. Partindo dessa lógica o Brasil teria o que falar nos fóruns internacionais e muito a ensinar, pelo visto. Somos uma nação independente, falamos o que queremos e quando queremos. Podemos criticar americanos, europeus, a ONU ou o FMI.
Mas o Brasil realmente caminha da Semi-periferia para o Centro? Ou apenas surfa na onda, encaixado que está na rede de fornecedores de matéria-prima e alimentos para a China. Quer dizer, quem está crescendo mesmo é a China e o Brasil cresce por que a China cresce.
O que exatamente corrobora essa tese sobre a crescente importância do Brasil no cenário mundial? Crescer em algum valor enquanto o centro não cresce ou cresce muito pouco? Mas dá para comparar nossos 3,5%, com tendência de queda, com os 9,1% do soft-landing chinês? Ou dá para comparar nosso crescimento nos últimos 8 anos, que seja, com o crescimento da China, da Índia, da Rússia?
Ou será que nosso espetacular novo mercado interno constituído por essa massa de ingressantes no consumo dos últimos anos, que se formou a partir dos ganhos reais de salário ou das políticas de transferência pública é suficiente para garantir o ingresso no seleto clube do Centro do sistema capitalista mundial?
Na realidade a pergunta precisa ser bem outra: Dá para ser sócio do Centro sem a produção da fatia mais saborosa do capitalismo, produção de conhecimento?
Diz a boa teoria que, olhando para um dado país, não há capitalismo em geral, mas sim variedade de capitalismo. Da mesma forma não há desenvolvimento, mas variedade de desenvolvimento.
A nossa é bem peculiar, pois é o desenvolvimento dependente de conhecimento. As indústrias automobilísticas instaladas no nosso país e que tanto animam os projetos de industrialização do governo Dilma são industriais nacionais,mas o conhecimento que viabiliza a produção desses veículos é propriedade das matrizes que ficam instaladas não aqui, mas lá no Centro. A parte do leão de todo carro vendido no Brasil é dividida entre o Estado e os proprietários estrangeiros das patentes de marcas, modelos e peças. É assim que a coisa funciona. A desculpa é a geração de empregos.
É justamente nossa variedade de desenvolvimento tecnológico-dependente que nos coloca à reboque hora de Portugal, ora da Holanda, ora da França, ora da Inglaterra, ora dos EUA e agora da China. Não tendo conhecimento para dar e vender o que a gente tem que dar e vender é commodities. Exportação de meio ambiente.
Voltando ao nosso pujante mercado interno que tanto emociona o Mantega. Vamos esquecer a sustentabilidade, que dá outra bela discussão, desses contingentes que ingressaram recentemente no mercado de consumo e nos concentrar apenas numa questão: Qual proveito podemos tirar desse ciclo de crescimento da economia pela via do mercado interno se não soubermos de alguma forma introduzir uma indústria de bens e serviços fundada no conhecimento e não no pagamento de patentes? Ou dá para desconhecer a obviedade de que é o ciclo de inovações reais que alavanca o desenvolvimento.
Nesse quadro que está desenhado não teremos nenhuma caminhada para o Centro, mas apenas uma associação a países que ele, talvez eles, estão caminhando para o Centro. Nossa posição de subalternidade permanecerá enquanto o estilo de desenvolvimento brasileiro não for alterado. Não parece que o governo Dilma tenha se dado conta disso...
Demetrio Carneiro