Certamente a detenção de Kadhafi tinha um peso fundamental na identificação do Conselho Nacional de Transição como autoridade central na Líbia.
A morte dele, pelo que dá para deduzir por meio de execução sumária, pode ser vista como a consequência dos mais de 40 anos de um regime violento, mas certamente a própria democracia nascente teria mais a ganhar com sua prisão e julgamento.
Agora seria uma boa hora para seus ex-amigos brasileiros falarem. Dilma que foi gerentona de Lula quando Lula via em Kadhafi um amigo dos brasileiros meio enigmanticamente falou em respeitar o morto.
A Líbia segue um caminho diferente do Iraque. Ambas as nações de alguma forma dispensaram a ditadura. Agora poderemos ter um termo de comparação entre um país em que a deposição do ditador foi consequência de uma intervenção militar externa e outro país que, mesmo contando com ajuda material externa não passou por um processo de ocupação territorial. O sucesso da democratização da Líbia talvez exponha com mais acidez as contradições da intervenção militar americana no Iraque.
Seja como for, tanto tempo depois da queda do Muro de Berlim e do fim da dualidade, ditaduras que foram toleradas, sustentadas ou que se organizaram no vácuo de poder entre as duas super-potências vão perdendo sua funcionalidade. Nessa hora é bom lembrar que os regimes autoritários na região foram extramente úteis como meio de controle das fontes de fornecimento de petróleo, tão essencial ao estilo de desenvolvimento atual, no âmbito das economias ocidentais.
É bem provável esse processo democratizante ainda gere influência na questão de Israel e do Irã, dando força àqueles movimentos internos nessas nações voltados para a distenção interna e externa.
Se tudo isso implicará em um amplo processo de democratização de toda a região ainda veremos.
Se essa democratização vier também é certo que deverá o fim das fortes desigualdades sociais.
De certa forma olhar para a violência política desviou o foco da preocupação da violência econômica embasada na apropriação dos recursos naturais dos países por uma Elite em detrimento de toda a população nacional . São fortunas de bilhões de dólares construídas sobre a miséria.
Atualmente há todo um investimento em pesquisa de fontes alternativas e de qualquer forma o petróleo é uma fonte finita. Resta torcer para que aquilo que produziu qualidade de vida para as populações ocidentais e sustentou todo um processo civilizatório possa agora finalmente ser utilizado em benefício dos nacionais. Há uma dívida nossa com essas populações que foram em nome de nosso bem estar condenadas à violência política e econômica. é bom que não esqueçamos.
É disso que a região precisa: Democracia, mas democracia e justiça social. Uma não existe sem a outra.
Demetrio Carneiro