quarta-feira, 5 de outubro de 2011

CUSTOS DO TRABALHO E COMPETIVIDADE NA ZONA DO EURO: UMA QUESTÃO A SER CONSIDERADA NO DEBATE BRASILEIRO

      Em um texto publicado hoje, 5, no FT, How to keep the Euro on the Road, algo do tipo “Como manter o Euro funcionando”, Martin Wolf comenta as possibilidades de saída da crise européia. O último parágrafo resume bem a linha de preocupação:

      "No entanto, infelizmente, a zona do euro exige mais ainda: Precisa de um roteiro que venha a dar credibilidade ao ajuste, por meio do qual, no final, veremos as economias mais fracas com sua saúde recuperada. Se tal caminho não for encontrado, a zona do euro, como é agora, vai se estilhaçar. A questão não é se, mas quando. O desafio é simplesmente tão grande quanto isso."

     Mas o que nos interessa no caso é um argumento referente à possibilidade da Grécia se manter como uma economia sustentável, mesmo que saia da crise. Basicamente ele se refere ao que fica expresso no primeiro gráfico da série de gráficos aninhados abaixo. Este primeiro gráfico compara o "custo unitário do trabalho em manufaturas" nos diversos países da zona do euro com a média desses custos em toda a zona. Salta aos olhos o quanto o custo grego diverge da média. Wolf define, e com razão, como falta de competividade.

     Certamente não tem nada a haver com “defesa” do trabalhador grego, pois seria de supor que os trabalhadores gregos estão mais “defendidos” que franceses ou alemãos, cujos custos estão mais próximos da média. Por serem França e Alemanha mais desenvolvidos que a Grécia dá para imaginar que estamos é falando de alta e baixa produtividade e questões de custos institucionais trabalhistas adicionais, refletindo-se no custo do trabalho grego.

       Isso nos remete ao assunto que vamos abordando esses dias com referência à relação entre a inflação mantida em níveis mais altos, por razões de ideologia e sobrevivência, a força das Centrais Sindicais dentro da estrutura de poder no Estado, o custo da mão de obra e agora podemos adicionar custos trabalhistas.

      Se toda a preocupação em referência à competividade dos produtos brasileiros for apenas quanto ao valor relativo do Real e, por consequência, permanecermos nesse caminho fácil, nossa atual easy road, sem que haja sérias preocupações com a produtividade da economia e sobre-custos trabalhistas gerados pelas diversas ineficiências de operação do Estado - desse ponto de vista o imposto sindical obrigatório certamente é uma delas, não é difícil imaginar que possamos cair na mesma armadilha da Grécia, que aliás também é, coincidentemente, muito boa na sustentação de suas redes neo-patrimonistas. Lá como aqui, após uma ditadura, as elites souberam “trocar” os anéis pelos dedos.

       É uma lição a se considerar, se olharmos para além da linha de sobrevivência da atual coalisão.

Demetrio Carneiro