Primeiramente seria preciso esclarecer o que exatamente o governo chama de “inflação sob controle”. Aparentemente sob controle atualmente significa estar próxima ao topo superior da meta, algo por volta de 6,5% ao ano.
Muito bem, foi uma escolha entre inflação e crescimento com implicações colaterais na relação entre a política monetária e a fiscal.
Do que dá para se vislumbrar a inflação se manterá fora a meta em 2011, 2012 e 2013. Voltando para a meta já na segunda metade de 2013. Como ainda não passamos pelas eleições de 2012 e como a Coalizão que está no poder já deu mostras do que pensa sobre ciclo eleitoral não seria demais imaginar que a inflação venha a se manter perto do teto não só em 2013, mas e principalmente, em 2014. Outro ano eleitoral.
Certo. Vamos imaginar que de 2011 a 2014 a inflação seja bem comportada e não passe do teto. A inflação acumulada desse próximos quatro anos chegará a cerca de 28% ou um pouco mais. Daqui para lá quer dizer uma quebra do valor real de aproximadamente um terço. O salário mínimo agora tem regras de indexação que lhe garantem correção e ganhos reais. É de se imaginar que todas as outras categorias de trabalhadores não ficarão olhando passivamente a banda passar. Hoje as Centrais Sindicais são parte do poder político ou pela participação direta de seus dirigentes no Executivo e no Legislativo ou pela capacidade de influenciar a produção de políticas. Situação diferente do passado de alta inflação quando a falta de capacidade de interferência dos sindicatos acabou deixando a conta pesar contra os salários. Para o período de 2005 a 2010, por exemplo a massa salarial parece não só ter sido corrigida pela inflação, como teve os ganhos equivalentes ao crescimento do PIB. De fato o PIB acumulado chegou a 23% e a massa salarial real cresceu 21% no período.
Olhando assim não é difícil prever que ou teremos muito mais inflação que os 6,5% anuais ou teremos conflitos entre capital e trabalho e será inevitável que esses conflitos acabem gerando conseqüências no crescimento. Embora a leitura desse governo pareça ser a do capitalista explorador o fato é que estamos num regime capitalista e empresários criam expectativas quanto ao seu investimento e o risco sobre o retorno. Num contexto de inflação e Centrais poderosas, baseadas dentro do governo, não é difícil imaginar que a conta será coberta, pelo imposto inflacionário de uma lado e de outro pela redução da margem de lucro. A segunda situação seria relativamente uma novidade, mas a primeira é bastante conhecida. É quando o Estado corrige suas receitas sem corrigir suas despesas. Com dois ganhadores bem claros, trabalhadores e governo, só resta haver um perdedor, os empresários. Evidente que até o limite da capacidade de compra do mercado isso acará nos preços. Mas a partir desse limite acabará no desinvestimento.
É bom registrar ainda que poderá haver um segundo e provável perdedor: A classe média urbana.
Administrar a economia a partir da ideologia tem seus riscos.
Demetrio Carneiro