Parece que o, ainda, andar de cima da economia mundial, o G-2 – EUA e China – passa por alguma turbulência, num momento onde a turbulência e a insegurança parecem estar na moda.
Ontem o presidente do BC americano, o FED, para os íntimos, fez um forte movimento político ao colocar mais lenha na fogueira do debate sobre a lei senatorial impondo sansões à China por sua política de desvalorização de sua moeda, o Renmimbi, ou Moeda do Povo. Segundo Bernanke o RMB desvalorizado acaba por inverter o fluxo em favor dos países emergentes num momento onde a economia americana precisa garantir sua retomada. O governo chinês contestou, vexado!!!, pois essa lei fere, segundo eles, os princípios do livre comércio defendidos pela OMC.
O beyondbrics, blog do Financial Times que lida com a questão dos emergentes de forma bem consistente, apresenta um visão bem interessante dessa confusão:
Primeiramente questiona que a “guerra comercial” seja um “grande evento”, frente a outros eventos bem mais complexos ocorrendo atualmente.
São apresentados dois argumentos bem interessantes:
a) Com a proximidade das eleições presidenciais nos EUA questões envolvendo emprego no mercado interno são politicamente sensíveis;
b) A transição da liderança chinesa, segundo um analista do HSBC, Daniel Hui, segue um plano coreográfico que necessita de estabilidade para ser executado. Isso torna os chineses extremamente adversos ao risco.
Em decorrência tanto podemos esperar discursos como o de Bernanke, como ameaças chinesas de levar a questão para a OMC. Mas de concreto nem se espera que a proposta de lei seja realmente aprovada e nem se espera que a China vá além de ficar “consternada” com a atitude americana.
Na base o RMB permanecerá apreciado e a grande questão para a economia americana continuará sendo como manter empregos sem bolhas especulativas, num momento em que percebem que a transferência das cadeias produtivas para a periferia foi uma excelente forma de reduzir custos de produção, estimulando o consumo da classe média americana, mas que os empregos perdidos agora fazem falta. Não é apenas no Brasil que escolhas na economia podem gerar resultados inesperados ou não imaginados...
No final de tudo trata-se de um debate sobre qual modelo mantém empregos e não sobre como o Estado pode manter empregos, pois a depender do modelo o Estado talvez não tenha muito a fazer, a não ser vender a ilusão de que pode fazer. A próxima eleição americana poderá ser uma disputa sobre quem é melhor para vender ilusões.
Demetrio Carneiro