sábado, 24 de setembro de 2011

DILEMAS DA INSDUSTRIALIZAÇÃO DEPENDENTE: QUEM ESTARÁ DISPOSTO A SAIR DE SUA ZONA DE CONFORTO?

      Quando o governo brasileiro decidiu tomar uma lado na disputa mundial entre montadoras do Centro desenvolvido e da Semi-periferia emergente, especificamente da China parecem ter esquecido a viagem de Dilma à China e as diversas declarações sobre a instalação de uma montadora chinesa no Brasil. A resposta não demorou muito e chineses já formalizam haver desistido de instalar aqui a sua montadora.

     Dilema complexo entre garantir empregos para perder empregos., já que todo o argumento para proteger as “nacionais” eram os empregos.

     No final são dilemas e discursos de um modelo de industrialização dependente e, pior, decadente. As autoridades brasileiras ainda insistem em fazer de conta que esses processos são sustentáveis no longo prazo e benéficos para o país.

      De qualquer forma perder tempo e esforços para tomar um lado na disputa das montadoras pode ser transvestido de legítima defesa de interesses nacionais e dar argumentos para tranqüilizar Centrais Sindicais, aliados na FIESP e CNI, e parlamentares cujas bases estão ou nos sindicatos ou nas corporações patronais. Vamos admitir que essa busca de resultados imediatos e palpáveis por parte do governo e seus apoiadores faz parte de um jogo de sobrevivência política. O problema é que esse olhar oportunista, abaixo da linha do horizonte, desvia o foco da questão principal que é como produzir um processo de industrialização sustentável no longo prazo, mas que ao mesmo tempo seja elemento de indução de desenvolvimento e não apenas crescimento.

      É disso que se trata. Estamos, no final do dia, trocando crescimento econômico por desenvolvimento. Talvez não apenas por que processos de desenvolvimento sejam muito mais complexos e demorados do que processos de indução de crescimento, já que exigem transformações institucionais profundas ao ponto de gerar mudanças estruturais e organizacionais. Talvez também seja por que intuitivamente a Elite, seus associados e cooptados, é bom colocar no pacote as Centrais Sindicais, saibam que processos de desenvolvimento podem terminar em novas configurações de poder, nem sempre favoráveis aos atuais detentores.

      Com efeito inovações que gerem conhecimento capaz de transformações de qualidade – nota: não estamos falando desse “empreendedorismo” no estilo Sebrae, mas no conceito schumpeteriano - , agregação de qualidade ao capital social via transformações no próprio conceito e estrutura do ensino e oferta de outras oportunidades, estruturas de financiamento de longo prazo num mercado livre do controle oligopolístico , projetos que encarem de frente os dilemas gerados pela necessidade de novos paradigmas sobre o que é a industrialização e como ela pode se dar num mundo onde a questão ambiental não pode mais ser ignorada, são todos elementos de um processo que só é viável com mudanças de fundo no próprio Estado e nas suas relações com o mercado e a sociedade civil, no sentido de uma completa democratização de todo o aparelho.

      Não é sempre que detentores do poder estão dispostos a correr riscos que vão muito além do discurso formal do populismo, colocando em risco suas hegemonias, complicando suas zonas de conforto.

      Enfim essa última questão acaba sendo a chave de todo o debate atual: Quem realmente estará disposto a sair de sua zona de conforto e correr riscos? As Elites dominantes dificilmente farão esse movimento a não ser que sintam, como sentiram na transição entre a ditadura e a redemocratização, que é melhor perder anéis que dedos. Então elas são demandadas e não realizam movimentos que não são estritamente necessários. Os amplos setores da política e do sindicalismo que acabaram cooptados e compõem esse novíssimo, historicamente falando e nos termos do Brasil, desenho de Elite dominante, dificilmente colocarão em risco suas situações atuais. Até porque são incapazes de olhar além do horizonte. A não ser claro, quando se trata de justificar a quebra das políticas de Estabilidade. As “oposições” em parte assumem uma concordância discreta e envergonhada com o que vem ocorrendo, devido ao fundo ideológico comum e parecem bem satisfeitas com seu “naco” de poder, não estando muito dispostas a buscar o realmente novo e correr riscos que possam mudar as relações de poder nas estruturas partidárias.

     Gostaríamos muito que esse romper com zonas de conforto pudesse ser algo que viesse das redes, como a Primavera Árabe, mas infelizmente quando falamos de desenvolvimento a primeira questão é como romper com 70 anos de cultura desenvolvimentista. São diversas gerações de pensamento que foram se entrelaçando e se seqüenciando sem se darem conta de que o século mudou e acabam buscando glórias, “plena” autonomia nacional, por exemplo, que jamais obterão por não saberem distinguir o mero discurso da prática transformadora concreta ou até mesmo se existe essa “plena” autonomia nacional, não devido à globalização, mas devido ao fato de que o Sistema-Mundo desse capitalismo dominante é antes de tudo um sistema onde as peças se integram perfeitamente, gostemos ou não.



Demetrio Carneiro