quinta-feira, 3 de março de 2011

Volpon : Brasil, Cortes...expansão de crédito?

Brasil: Cortes...expansão de crédito?

Por Tony Volpon

Depois de muito trabalho e suspense no detalhamento final dos planejados R$ 50bi de cortes fiscais para o orçamento previsto de 2011, o Ministro da Fazenda Mantega anuncia agora um empréstimo de R$ 50 bi do Tesouro Nacional para o banco estatal de desenvolvimento BNDES visando apoiar a sua atividade de crédito este ano, estimada em cerca de R$ 75 bi. A reação do mercado tem sido bastante negativa, com taxas DI cruzando o teto, assumindo um viés de maior inclinação. É o caso, o governo estar tirando com uma mão (cortes fiscais), mas apenas para colocar de volta com a outra (maior de crédito)?

Do ponto de vista da gestão da demanda seria muito melhor para o governo reduzir severamente este tipo de empréstimos subsidiados. É verdade que o ministro prometeu que estes novos créditos serão "alguns pontos percentuais"
mais caros do que no ano passado, mas o que não disse, é que esse tipo de empréstimos subsidiados são em parte os responsáveis pelo fato de que o Brasil tem uma das maiores taxas reais de juros do mundo. Tenham em mente que a “taxa básica” do BNDES, conhecida como "TJLP" é de 6% ao ano, contra a taxa, política, Selic que é de 11,75%.

Embora essa notícia não seja boa para a gestão da política fiscal global, especialmente quando a gestão da demanda deve ser a prioridade número um do governo, não é algo inesperado. Também é verdade que, do ponto de vista do produto potencial, esse tipo de empréstimo é necessário já que, infelizmente, este tipo de crédito baseado no empréstimo subsidiado em longo prazo no Brasil é escasso, e, assim, eliminá-lo levaria a níveis de investimento muito menores. Infelizmente, o ministro não soube aproveitar essa oportunidade para falar sobre a implementação das medidas anunciadas no ano passado para promover empréstimos de longo prazo com a finalidade de apoiar os investimentos e permitir que o BNDES, que já é sistematicamente muito grande ( agora é maior do que o Banco Mundial), abrandar o seu crescimento nos empréstimos.

Continuamos a acreditar que o verdadeiro problema não é tanto as medidas tomadas per si, mas com a mensagem que se passa. Muito ou pouco, após a desastroso desempenho fiscal de 2010, o mercado não confia no ministro Mantega. Ele também assume uma atitude esquiva tentando manter a tese muito improvável que a inflação pode ser mantida sob controle com crescimento próximo de 5%, ou que o Brasil tem um problema de inflação devido aos altos preços das commodities, e não devido ao excesso de demanda que as políticas governamentais de 2010 ajudaram a criar.
Uma avaliação internamente mais consistente e realista das perspectivas para a economia brasileira, reconhecendo que o governo está sendo obrigado a ajustar os excessos do ano eleitoral, seria um passo importante para recuperar a credibilidade perdida.