segunda-feira, 14 de março de 2011

MEDIOCRIDADE À VISTA

Desde as eleições um comentário constante nosso tem sido à propósito do ambiente que seria “ideal” para a oposição e mesmo para o retorno do “Cara”. Certamente um bom governo de Dilma apararia as ambições e abriria as portas para a reeleição. Contudo com um governo medíocre seria diferente.

Dilma parece capaz de agir mais eficientemente na política externa e tem marcado alguns pontos bastante positivos nessa área, retomando nossa tradicional posição de alinhamento junto às nações democráticas e não às ditaduras como foi na época Lula. Também parece estar dispostas a buscar uma posição menos aventureira nessa questão de diálogo sul/sul e sul/norte.

Para o exterior são as posições que marcam. Contudo para dentro o que pesam são as ações.

Os anos de governo Lula foram marcados firmemente por dois mantras:
O primeiro de que tudo se resolve a partir do crescimento e de que qualquer esforço é válido: Crescer e crescer sempre é o único remédio;
O segundo é que compete ao Estado e sua elite política e tecno-burocrática, e unicamente a eles, ditar a métrica e o ritmo do crescimento. Aos outros atores, o segmento privado e a sociedade civil, compete seguir o guia. É o mantra do Estado-Guia.

Aparentemente os dois conceitos são projeto e limitantes do governo Dilma.
O mantra do crescimento transforma em realidade concreta a definição de um “piso” para a expansão do PIB. Algo do tipo não podemos crescer abaixo de “x”, mesmo que implique em adotar políticas mais agressivas como manter o ritmo de gastos ou interferir mais pesadamente na questão cambial.
De fato, pela escrita dos anos Lula, um PIB baixo, tipo 3% ou até 2%, significariam um fracasso e abriria uma porta à vulnerabilidade, criando espaço uma sucessão mais complicada.
O mantra do Estado-Guia, num diálogo entre os dois mantras, gerou o que chamamos de contra-corte do corte. A pesada transferência de recursos públicos para o BNDES permanece e já coloca o banco de investimento como o maior banco do mundo, três vezes maior do que o Banco Mundial.

Provavelmente serão este dois mantras, condutores do sucesso, que levarão ao fracasso.
O Relatório Focus do BC, divulgado hoje, reduz a percepção do crescimento do PIB para 4,1% e aponta um expectativa de inflação para 2011, em alta, para 5,82%, já mais próxima do teto da meta que é de 6,5%.
Embora haja toda uma leitura sobre o quanto o “mercado” induz o governo a aumentar suas taxas de juros, o fato é que a Teoria Econômica é bem clara quanto a algumas questões. Uma delas é a de que a expectativas interferem sim no planejamento da economia de uma nação .Já é sabido que uma das “falhas de Estado” é justamente a incapacidade de controlar totalmente os efeitos de uma dada política aplicada com uma da finalidade. O trabalho de gestão econômica é justamente ir lançando mão de instrumentos, alguns consagrados e outros nem tanto, no sentido de que rumos sejam corrigidos. Mas o que ocorre quando gestor fica com a visão e a capacidade crítica enublada por suas ambições? É que parece que vai ocorrendo com a necessidade de perseguir os dois mantras do que parece ser a política econômica de Dilma.

Sobre o fio da navalha a equipe econômica aposta que poderá manter o piso e não vê qualquer contradição em suas ações, embora muitos estejam apontando que o rei está ficando nú. Infelizmente a vontade de garantir um piso mínimo de crescimento acabará por comprometer o próprio crescimento, pois as atuais contradições tenderão a se aguçar, complicando a capacidade de planejamento e comprometendo a eficiência da aplicação de políticas corretivas.

A única forma de gerar mais à frente um crescimento sustentável da economia é mudar as regras do jogo. É evidente que é possível traçar e buscar metas de crescimento, mas não será com as atuais lógicas que obteremos isso.
É preciso sim cortar radicalmente gastos e, não só os números não indicam isto, mas os agentes públicos também não se mostram tão entusiasmados nesta tarefa, embora a fala oficial seja outra. Neste caso formar expectativas e depois desfazê-las pode ser muito pior do que não fazer nada. É a questão, que vem sendo insistentemente apontada, da confiabilidade, para ficar apenas por ai.
Na questão cambial o governo prefere não encarar o óbvio de que somente uma política pública de investimentos de longo prazo fundada nos aportes gerados na iniciativa privada fornecerá uma real alternativa ao ingresso dos Investimentos Diretos Estrangeiros. Tendo que assimilar os IDEs a alternativa das autoridades é na direção de forçar um câmbio favorável às exportações e que reduza o impacto das importações pela via da restrição cambial, forçando cada vez mais o regime de flutuação. Neste último caso convém assinalar que o BC relacionou a manutenção do atual patamar de apreciação do real com o fim do ciclo de reajustes. Quer dizer, criou-se um novo gatilho para um novo ciclo de reajustes por conta, agora, da apreciação do real.

Como vem sendo formulado no mercado o famoso tripé da economia vem sendo forçado no seu limite pela necessidade de crescimento a qualquer custo. Comprometem-se as metas de inflação pelo conceito de flexibilizar o alvo no centro, diariamente defendido por Mantega. Comprometem-se as metas fiscais pelo stop-and-go do tira-e-coloca recursos. Compromete-se a política cambial de flexibilização.
Do ponto de vista da esquerda radical é “maravilha”, pois pelo que parece crescimento dá em árvore no meio da rua e o tripé não passa de uma armação neoliberal para impedir a distribuição mais justa da renda.
Do ponto de vista do mundo real os dois mantras do crescimento deverão é acelerar a inflação, deteriorar as expectativas e poderão acabar por nos levar a um crescimento medíocre, não mais por período de ajuste e reordenação, mas por um longo tempo.
Bom para Lula e para a oposição. Péssimo para todos nós.

Demetrio Carneiro