quarta-feira, 2 de março de 2011

ADOLFO SACHSIDA: UM LONGO ANO, COM CHANCES DE CPMF

Tendo que lidar com expectativas o governo produz o corte, mesmo que em seguida nos apresente ao contra-corte. Agora terão que lidar com a síndrome de abstinência ou reconhecer a ineficiência gerencial que é ou deveria ser, uma das marcas fortes da atual gestão.

Nesse contexto a preocupação do Adolfo com a CPMF não é infundada, pois a base da expectativa é de que o governo não expanda mais seus gastos sobre a receita atual prevista. Nas falas tortas de Mantega caberia sem muita dificuldade o argumento, vencido, da necessidade de suplementar áreas estratégicas. Talvez até para gestar a proposta a função educação tenha sofrido cortes. O fato é que o governo já mostrou que dispõe de ampla maioria e sabe usá-la quando lhe apetece. 

Demetrio Carneiro


Quando seu time tem Pelé e Garrincha você sabe que pode vencer a qualquer momento. Quando seu time tem Mantega e Belchior você sabe que é questão de tempo até alguém entregar o ouro. Vejam, por exemplo, o vexame associado ao ajuste fiscal anunciado pelo governo. É simplesmente inaceitável tanta confusão envolvendo os dois principais ministros da área econômica.

Logo depois de anunciar os cortes que integrariam o ajuste fiscal, o governo foi vergonhosamente desmentido. Alguns especialistas, esse blog entre eles, deixaram claro que o ajuste anunciado pelo governo não era factível. Não satisfeito, o governo tentou novamente convencer a todos detalhando os cortes do orçamento. Dessa vez é difícil dizer se a equipe econômica foi confusa ou maldosa. Três detalhes devem ser levados em conta para se analisar o corte de R$ 50 bilhões proposto pelo governo.

Em primeiro lugar, o governo simplesmente mentiu ao dizer que gastos sociais e investimentos do PAC não seriam atingidos pelo corte. Será que a equipe econômica realmente acreditou que ninguém iria notar o truque de falar uma coisa e fazer outra? Exatamente o que se passa na cabeça de ministros de Estado que se contradizem recursivamente no mesmo assunto?

Em segundo lugar, o governo não detalhou os cortes de maneira a deixar claro o que efetivamente será cortado.

Em terceiro lugar, o corte é simplesmente de mentira. Quando se anunciou o ajuste fiscal, a maneira efetiva de fazer isso é reduzindo os gastos do governo em 2011 em relação a 2010. Ou seja, espera-se que o governo gaste menos esse ano do que gastou no ano passado. Mas não, o governo quer basear o ajuste fiscal não no volume de recursos efetivamente gastos em 2010, mas sim no orçamento aprovado para 2011. Só pra dar uma idéia desse absurdo, notem que o governo gastou em 2010 R$ 657 bilhões (sem entrar a capitalização da Petrobras). Dessa maneira, um ajuste fiscal sério nos levaria a crer que em 2011 o governo iria gastar menos do que isso. Contudo, mesmo após o corte de R$ 50 bilhões, se o governo gastar o restante do orçamento ele terá gasto em 2011 R$ 717 bilhões. Ou seja, deve ser o primeiro caso no mundo de um ajuste fiscal que aumenta os gastos do governo.

Para finalizar, vou repetir o que já disse antes, o ajuste fiscal no Brasil será feito por dois canais: volta da CPMF e aumento da inflação (para algo entre 7% e 8% ao ano).