quarta-feira, 2 de março de 2011

UMA QUESTÃO DE CONJUNTURA: NEM TUDO É FESTA

A economia vem em ritmo de desaceleração, parte pelas medidas macro-prudenciais, parte pela própria expectativa dos agentes, parte pelo impacto da questão cambial que vai produzindo seus estragos numa indústria pouco concorrencial no seu conjunto.
Há fatores que não ajudam muito na questão concorrencial: questões próprias, como o hábito do guarda-chuva protecionista do Estado, ou as fortíssimas limitações de infra-estrutura e a questão institucional, citando alguns de uma farta coleção.

Do outro lado a inflação parece estar caminhado para retomar um caminho mais comportado escapando da tendência de romper o teto da meta. Não que haja uma garantia de manutenção deste comportamento por conta da ineficiência da política de corte de gastos em formar expectativas que demonstrem a vontade do governo em deter a expansão dos gastos e o impacto de fato desses gastos na economia. A proposta de continuar usando o BNDES como um forte promotor da expansão negada oficialmente é um caso a se observar atentamente já que falamos em valores na casa de R$40 bi ou R$ 50 bi. Mesmo que se fale em ampliar o corte para R$ 80 bi como contra-peso, como já se sabe da pouca eficácia, talvez não seja funcional.

Fora de nossas fronteiras, mais para cima, além do equador, o problema está no preço do petróleo e num Kadafi que insiste em permanecer onde nunca deveria ter estado.O aumento do preço do petróleo pode mesmo impactar as economias desenvolvidas e jogá-las num novo ciclo de crise. A nós, com nossa auto-suficiência, não afetaria tanto, mas certamente chegaria à China, nosso maior parceiro comercial. E, pela via da China, chegaria a nós. Tudo bem, nós temos fortes amarrações internas que ajudariam como o evento da Copa,.as Olimpíadas e o Pré-Sal, que nessa altura pode ser posto como uma solução, pois depende dos altos preços do petróleo para ser viável. Nosso único problema é um Estado incompetente para investir, tanto pelo montante como pelas escolhas. Este fato coloca todo o peso desses mega investimentos nas mãos do estrangeiros, o que, além de repercutir diretamente na questão cambial, coloca um peso maior na possibilidade do recrudescimento da crise no norte e na possibilidade dos fluxos de investimentos não nos chegarem em volume suficiente ou bem mais caros que o esperado.

Neste horizonte negativo o projeto de criar um estilo de crescimento fundado na composição entre uma aliança comercial permanente com a China e a expansão do mercado interno pode estar comprometida.
Enfim, nem tudo é festa.

Demetrio Carneiro