domingo, 6 de março de 2011

DILMA: O CAMINHO DAS MESMICES? RUPTURA E ACOMODAÇÃO

Sendo correta, e parece que é, a avaliação feita pela Agência Reuters, abaixo, de que Dilma deixará de implementar as prometidas reformas, pelo menos no sentido de reformas reais e não de arranjos pontuais para atender à correlação de forças nesta específica conjuntura, vamos pelo caminho da mesmice.

Onde nos leva ele? Exatamente onde já estamos: Uma perspectiva de crescimento medíocre. Jamais deixaremos de crescer, apenas cresceremos em ritmo muito menor do que nossas possibilidades efetivas seja pelo contingente populacional, estoque de bens naturais, meio-ambiente ainda saudável etc.
Apenas no caso do contingente populacional, o chamado bônus demográfico, vela à pena lembrar um texto escrito por um indú onde ele dá como razão para um maior crescimento da Índia com relação à China nos próximos anos por conta do bônus demográfico.

Todos sabemos das limitações ao nosso crescimento. Podemos olhar para elas ou não. Dilma se mostra disposta a não olhar e, assim como FHC, quando ignorou importantes pontos dessa agenda, e Lula que seguiram pelo caminho mais fácil. Na realidade Dilma sabe da base nada ideológica que formou e sabe que certas questões são impossíveis de comprar como, por exemplo, o enfrentamento de corporações numa Reforma da Previdência. Digamos que seria mais um efeito colateral da Política de Formação de Amplas Maiorias e do processo político fisiológico.

O grande problema é que uma proposta de amplas reformas teria que partir de uma base de pensamento que não existe hoje, até porque ninguém se dá ao trabalho de pensar quando tudo que se faz é ficar de olho na mídia e apenas no que dá mídia.
Um belíssimo exemplo é a qualidade na educação. Do ponto de vista da mídia o “povo” já está satisfeito em ter suas crianças na escola. Para quê discutir qualidade. Daí a pregação no deserto do Senador Cristovam Buarque, o Ministro da Educação sintomaticamente demitido através da mídia. Pensando bem parece um recado fortíssimo.

Enfim, com as reformas que se pode fazer e não com as reformas que se precisam nosso longo ciclo de dependência externa, agora renomeando como parceria sul-sul aquilo que se chamava de imperialismo, permanecerá coerentemente conectado com outro longo ciclo, iniciado em Getúlio, da Estatal-dependência.
Não há rupturas, no sentido de reais transformações no modelo, previsíveis. Não há disposição para a ruptura. É um processo de permanente acomodação.
Invertendo a lógica apontada por Pedro Célio Alves Borges, que citamos em outro post, onde ele aponta um processo de “conciliação que leva para a reforma” como significativo na consolidação das oligarquias no Poder Real em nosso país temos um novo processo: “Não realizar reformas para manter o clima de concialiação”, que parece expressar a lei matemática sobre “a mudança dos fatores que não altera o produto” : Noves fora o Poder Real permanece inalterado. 
Ao contrário da ruptura a acomodação que levará a mesmice mais que cinco vezes centenária.

Eu me atrevo a dizer que há fortes segmentos da classe média urbana e rural e de outros segmentos que estão completamente ignorados e alijados do Poder Real que apostariam nessa ruptura como forma de inovar os processos e conceitos trabalhando pela construção de um país bem diferente desse.

Dilma esfria reformas econômicas no início do mandato

Raymond Colitt, Reuters


A presidente Dilma Rousseff está desistindo de uma agenda de reformas que a comunidade financeira, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e outras autoridades dizem ser necessárias para acelerar os investimentos e o crescimento sustentável do Brasil.
Apesar de ter uma larga maioria no Congresso, o governo de Dilma tem sido tomado por preocupações sobre os gastos, a inflação e as incertezas da economia global, segundo seus líderes.
Isso afundou ou atrasou a legislação que iria, entre outras coisas, simplificar o pesado sistema de impostos, reformar a estrutura de royalties do petróleo e intensificar o controle sobre a indústria mineradora do país.
Empresários têm afirmado que essas mudanças facilitariam a operação no Brasil, onde indústrias e outras companhias frequentemente reclamam que a valorização do real, a burocracia e o fardo dos impostos dificultam a competição.
"Nessa conjuntura, mesmo com estabilidade econômica, você pode criar uma instabilidade financeira" ao tentar aprovar as reformas, afirmou à Reuters o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), líder do governo na Câmara dos Deputados.
"Você faz essas mudanças quando as coisas estão calmas, não durante uma crise econômica internacional."
Nos primeiros dias, Dilma enfrentou sindicatos e membros do PT, elevando a esperança de reformas entre empresários. Mas ela começou a se distanciar da agenda de reformas antes de assumir o cargo de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, colocando freios em reformar a aposentadoria e as leis trabalhistas.
Agora, o governo diminuiu a planejada reforma tributária, que Dilma tinha elencado como uma de suas maiores prioridades econômicas, para alguns cortes na folha de pagamento e investimentos. A grande tarefa de harmonizar os impostos será postergada.
A indústria há tempos reclama que a cotação da moeda favorece as importações sobre as exportações e prejudica a agregação de valor às mercadorias. Para o setor, a competição entre os Estados para oferecer os impostos mais baixos a produtos estrangeiros causa elevação nas importações e prejudica as indústrias locais.
"Não vale a pena atacar isso, porque requer acordos que não temos", afirmou Humberto Costa (PE), líder do PT no Senado. "Há muitos interesses envolvidos. Não é tão fácil."