quarta-feira, 30 de março de 2011

O QUE A TAXAÇÃO RESOLVE OU NÃO

Em entrevista dada ao Financial Times  ontem, 29, o Tony coloca pontos a serem considerados:

"O mercado de câmbio não tem dado muita atenção a essas medidas. O que impulsiona o real são, essencialmente, os fundamentos brasileiros e preços das commodities.", nas palavras dele.
É um processo de aprendizado: Adotar medidas e ver o que funciona.

Na base da questão cambial a capacidade concorrencial da indústria brasileira.
Quero, então, agregar outro ponto:
Ontem a mídia registrava uma mudança de posição de Dilma, portanto do governo brasileiro, quanto à China. Aparentemente a inicialmente firme defesa feita por Lula de que naquele país haveria um “regime de mercado” definitivamente será posta em cheque. O contra-ataque chinês não tardou e tocou num ponto sensível de nossa política externa ligado à visão geoestratégica brasileira.
Para além de todas essas ações experimentais na política cambial, que poderão ser mais paliativas do que eficientes, parece que a relação China/Brasil receberá uma outra abordagem com o governo brasileiro retirando a luva de pelica. Na base justamente a fortíssima concorrência dos manufaturados chineses dentro do próprio mercado brasileiro. Se com relação à concorrência no exterior obviamente não há muito para fazer.
Em última análise a China protege seus pintinhos. Cabe ao Brasil sair da neutralidade e tentar fazer com que pelo menos internamente os reflexos não sejam tão potentes. Ou seja, quem tem que cuidar de seus pintinhos é o Brasil.
Neste sentido tirar da China a qualidade de regime de mercado abre a porta para ações mais efetivas.
Não por acaso a Polícia Federal tem produzidos ações pesadas contra a máfia de importação irregular de manufaturados. Poucos dias atrás fizeram quase que um showmício num shopping paulista, aliás de propriedade de um conhecidíssimo contrabandista chinês.

Enfim o futuro mostrará os limites desta ação direta. No fundo também não deixa de haver um experimentalismo e algum grau de incerteza na medida em que um recado mais forte poderá retrair os preciosos investimentos diretos estrangeiros, dos quais uma parte bem significativa é de origem chinesa. O que, alias, recoloca outra nova questão quanto à uma estratégia de reorientação de IDEs do setor de commodidities para o de manufaturados, por exemplo. Sendo o primeiro o foco principal dos investimentos diretos chineses.

Possam ou não ser saudadas estas medidas protecionistas voltadas para a questão cambial ou para a relação comercial Brasil/China são pontuais quando em realidade deveriam ser medidas inseridas numa lógica de desenvolvimento economicamente sustentável que só se realizará com efetivas ações quanto ao custo-Brasil ou aos empréstimos de longo prazo fora da estrita órbita do BNDES ou à inexistente cultura interna de poupança, apenas para apontar alguns temas.

Não há nada a comemorar. Falta do governo Dilma sair do tradicional imediatismo das políticas de defesa da indústria brasileira. Olhando para a história não é difícil perceber ao lado do dado positivo um enorme passivo negativo nos custos do estímulo à permanência da baixa capacidade competitiva. Precisamos não de discursos, mas de políticas de longo prazo que permitam à nossa indústria uma real capacidade de competição interna e externa.
Como diz o ditado: De boa vontade o inferno está lotado.

Demetrio Carneiro