quarta-feira, 16 de março de 2011

BRASIL: O PRÉ-SAL E O DESENVOLVIMENTO

Estamos aqui todos envolvidos num forte debate sobre o que está acontecendo agora, hoje:

 Se o BC está ou não andando em gelo fino, se o governo estabeleceu ou não um piso para o PIB e como isto pode influenciar o crescimento, se o governo está ou não correto em olhar “além do horizonte” ou se é certo ou não controlar o fluxo da capitais e o que impactará no crescimento.

Agora, neste debate ainda, registro essa interessante, bom assinalar que é original, até onde sei, leitura do Tony sobre a inversão do equilíbrio do tripé. O Tony parte de uma lógica, sistêmica é bom dizer, de que o “sistema” tripé precisa ter equilíbrio, isto é, se você investe mais num ponto você precisa desinvestir no outro. Se o governo anterior apertou um lado e afrouxou o outro, este governo inverteu a direção das forças aplicadas. É uma percepção sobre método que procura ler questões de essência e não da aparência. É preciso ressaltar, pois este é o caminho do pensamento científico na economia. Aliás, a “marca” do Tony tem sido saber utilizar o pensamento científico e criador, chegando um pouco no pensamento acadêmico, mas sem todas aquelas formalidades, num segmento totalmente voltado para o conjuntural. Talvez esteja ai o “segredo” de seu consistente trabalho de acertos na previsão do comportamento do mercado e do governo.

De meu ponto de vista opino e reporto posições que me parecem relevantes nesse debate, mas sempre tenho insistido nas questões mais estratégicas, ligadas ao desenvolvimento e não apenas ao crescimento. Na realidade não acho impossível o governo Dilma “acertar” a recita de condução das políticas econômicas de curto e médio prazo. De fato, basicamente é uma questão de sensibilidade e leitura objetiva. Não acho impossível, mantido o atual quadro, que cheguem realmente numa política consistente de equilíbrio. Claro tem fatores limitantes como a leitura ideológica de Mantega e seu grupo, tem a salada e inconsistência etc. Contudo governo é governo e acho que nossa história demonstra que para cometer erros profundos/calamitosos é preciso ser muito mais incompetente do que são os atuais gestores da economia. O cenário que imagino não é o do desastre, mas o da mediocridade como tenho afirmado: Políticas econômicas mais ou menos consistentes, ai sim, limitadas pela inconsistência principal, a estratégia de longuíssimo prazo ou seja limitada pelas premissas de um modelo de desenvolvimento ele sim totalmente errado.

Para mim o ponto principal é que as políticas econômicas, monetária, fiscal, cambial, são instrumentos válidos de atuação pontual. São políticas reativas. As políticas pró-ativas, estruturantes são aquelas ligadas aos conceitos de desenvolvimento. Na realidade estas políticas se falam. Falam-se historicamente, pois as concepções de desenvolvimento de longo prazo em certa medida moldam as políticas econômicas e fornecem claríssimos limitadores. Claro que não elimino o papel isolado de cada uma, como não elimino a possibilidade de melhorar e aprimorar as políticas econômicas, tanto no sentido institucional como no estrutural. Nem mesmo elimino a obrigação da oposição em contribuir, naquilo que lhe couber, para a melhoria das políticas de governo. Aliás tenho convicção que ser oposição é isto mesmo: Criticar e propor.

Retornando ao fio do raciocínio. O Maurício Dias David me enviou, pelo mailing dele, o texto abaixo. Achei interessante replicar, pois fala um pouco sobre a importância de olhar cenários mais amplos, aqueles ligados ao desenvolvimento. O Pré-Sal foi um assunto badaladíssimo no pré-eleitoral, mas atualmente parece ter sido posto de lado, como se não existisse mais. O ponto deste artigo é justamente mostrar que o debate sobre o Pré-Sal, seus resultados e expectativas interferem diretamente em nosso desenvolvimento e suas estratégias.

Demetrio Carneiro

 

Economista-chefe do BNY Mellon alerta para riscos do "petrorreal"


Richard Hoey: "Uma hora será preciso pensar em como será o Brasil em 2015"

A principal preocupação da equipe econômica brasileira não deveria ser a valorização cambial provocada pela entrada de divisas das exportações de soja, café e minério de ferro, mas preparar o país antes que o petróleo do pré-sal comece a ser vendido. Neste momento, o real poderá passar a ser "petrorreal", uma vez que os preços elevados dos barris de petróleo vieram para ficar.
Essa é a avaliação de Richard Hoey, economista-chefe do BNY Mellon, o maior banco de custódia do mundo. Para Hoey, formado em Yale (EUA), a atual dependência que o saldo comercial brasileiro têm da venda de commodities será "muito mais concentrada" no petróleo, caracterizando um problema muito mais difícil de lidar. "O problema não está na inflação de 2011 e até quanto o Banco Central deve elevar os juros, mas em preparar a economia para o momento que o pré-sal começar a gerar recursos."
Para Hoey, os agentes - governo e empresários - brasileiros se preocupam muito com o curto prazo, o que sempre deixa problemas em aberto a serem resolvidos no futuro. "Em 2009, a preocupação era segurar a crise. Em 2010, produzir um ano de crescimento muito acelerado. Em 2011, colocar o pé no freio. Uma hora será preciso pensar em como será o Brasil em 2015, quando o pré-sal estará a todo o vapor", afirma Hoey, que falou de Nova York com o Valor, por telefone.
Com mais de US$ 25 trilhões em ativos - o equivalente a quase cinco vezes o Produto Interno Bruto (PIB) da China, o segundo maior do mundo - o BNY Mellon é um dos bancos mais antigos em atividade no mundo. Fundado em 1798 por Alexander Hamilton, um dos fundadores dos Estados Unidos, o Bank of New York (BNY) se fundiu há quatro anos com o Mellon Corp., criado na década de 1920 pelo então secretário do Tesouro americano, Andrew Mellon. Hoey é economista-chefe do banco desde a fusão.
"As revoluções nos países árabes, de fato, deveriam alterar pouco os preços do petróleo, uma vez que Egito e Tunísia não produzem nada e a produção da Líbia é uma fração do que pode produzir, por exemplo, a Arábia Saudita", diz Hoey, para quem a elevação de preços do petróleo no mercado internacional ocorre "simplesmente porque os barris estavam com preços defasados". Segundo o economista, os preços do petróleo, que devem recuar quando os conflitos no Oriente Médio atenuarem, encontraram um nível mais elevado em 2011. "Essa é a base de preços que o Brasil encontrará quando o pré-sal começar a gerar dividendos à Petrobras e ao país, a partir de 2013", diz ele.
A economia brasileira está pressionada, acredita Hoey, pelo fato de a moeda já estar em um patamar "muito valorizado", o que dificulta o combate à inflação pela via tradicional, isto é, a elevação de juros servindo de imã que atrai capitais, valorizando o real e barateando os importados. Os chineses, por outro lado, podem reduzir a alta de preços por meio da valorização de sua moeda, mantida desvalorizada em relação ao dólar pelo Partido Comunista, que sustentou o forte crescimento da economia pelas exportações. "A valorização da moeda chinesa, inclusive, ajudaria a economia americana, que está começando a exportar mais, e isso, consequentemente, melhoraria o quadro para os industriais brasileiros que perderam mercado nos Estados Unidos nesses últimos anos", diz Hoey.
Com a retomada americana, avalia o economista, a demanda por petróleo terá uma sobrevida, enquanto os pesados investimentos feitos no desenvolvimento de fontes de energia alternativas não maturam. "Essa demanda será importante, num primeiro momento, para países como o Brasil, que se tornarão importantes exportadores, substituindo uma eventual perda de força na demanda chinesa por commodities", avalia Hoey, para quem, no entanto, apostar no petróleo é "arriscado" no longo prazo. "Quando o óleo de baleia começou a perder força, 150 anos atrás, por falta de baleias, ninguém ficou subsidiando a criação de baleias para manter o fornecimento de energia", afirma.