sábado, 5 de março de 2011

A FALÁCIA DO PIB DE 7,5% E A HISTÓRIA QUE NUNCA MUDOU NOS ÚLTIMOS 500 ANOS - 1

Abaixo entrevista publicada no Portal do PPS, em 3 de março passado. Ela servirá de introdução a um outro post que colocarei ainda hoje. 

No final de tudo a questão é saber qual é o ponto quando você raciocina para além da conjuntura? Tenho insistido que na prática política é fundamental ver para além do hoje, e às vezes do ontem já que o passado nem sempre pode servir de métrica. Conforme o ponto de foco da reflexão é possível chegar a resultados completamente diferentes.

O pensar sobre a oposição, por exemplo, apenas fundado nas questões de agora, no sentido de correlações de força e projeção dessas correlações, se não for um puro ato de fé do tipo "Eu vencerei" ou "Eu estou predestinado" que são leituras do líder e não do movimento, embora possam contagiar o movimento em última análise, acabarão sempre resultando ou na desistência ou na adesão, mesmo que disfarçada, pela necessidade de sobreviver num ambiente que parece ter normas pétreas quanto ao fisiologismo, apontando condições de imutabilidade do status quo. A forma de romper este encanto está no projeto.


Voltaremos ao assunto.

Demetrio Carneiro


Nenhum economista sério faria a festa que a equipe econômica do governo Dilma está promovendo em torno do crescimento de 7,5% do PIB. Uma análise minimamente responsável, com base em números concretos, mostra que, na verdade, o Brasil está na rabeira do crescimento mundial e vive o dilema de não poder ultrapassar uma taxa real de 4,5%, sob pena de fazer disparar a inflação. O alerta é feito pelo economista e professor da UnB Demétrio Carneiro, que resume o que realmente representa a taxa anunciada com pompa pelo ministro da Fazenda Guido Mantega: "O Brasil cresceu 7,5% em 2010 comparado com uma retração de 0,2% em 2009. Na prática, isso mostra que não demos um salto, estamos mantendo a mesma média medíocre. O governo fala uma coisa e esquece da outra".

A farsa do "espetáculo do crescimeto" vendida pelo governo pode ser melhor percebida, ressalta Demétrio, se compararmos o crescimento do Brasil e de outros países emergentes com relação a taxa do G7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e o Canadá) de 1990 a 2008. Nesse período, o Brasil apresentou crescimento médio em torno de 6,8% (veja tabela), enquanto a China, país que o governo do PT gosta de se comparar, apresenta taxas de até 44%. Os Estados Unidos, por exemplo, vem mantendo crescimento em torno dos 45%. "Isso mostra qual é a realidade dos cálculos", ressalta Demétrio, que também é dirigente do PPS.

Para o economista, o grande problema é que a equipe econômica brasileira ainda trabalha com a lógica de que 4,5% é um crescimento espetacular. "O questionamento que temos que fazer é se realmente é espetacular. Eu acredito que não é. O Brasil teria condições de ter um crescimento muito maior. O problema é que para ter um crescimento mais elevado teríamos que ter toda uma transformação do conceito de desenvolvimento brasiliero. E isso o governo não está disposto a fazer", critica. O que o Brasil vem fazendo esses anos todos, ressalta o economista, é manter a mesmice. "E agora, com 7,5% em cima de um PIB de -0,2%, armam uma festa, uma festa errada. Isso é conversa fiada de marqueteiro", analisa Demétrio

BNDES

Demétrio também cita seu colega Tony Volpon, chefe da área de pesquisas de mercados emergentes da Nomura Securities International, para cobrar uma nova postura da equipe econômica. "O Tony Volpon me lembra, num texto que acebei de receber, que no ano passado o ministro Mantega afirmou que iriam criar condições institucionais para empréstimos de longo prazo a partir do setor privado da economia. O que acontece hoje? O BNDES é o maior banco de desenvolvimento do mundo, ele é maior que o Banco Mundial. Estamos usando recursos do Tesouro quando na verdade existem toda uma disponibilidade de recursos privados para poder financiar esse processo", afirma Demétrio.

Para que essa ideia prospere, lembra o economista, tem que ser montado um arranjo instituciional, que foi o que o ministro Mantega prometeu no ano passado e não cumpriu. "Então eu pergunto: Por que o governo não implementa essa política em vez de ficar repasando recursos para o BNDES. É um processo atravessado de financiamento do desenvolvimento, do crescimento econômico. Esse processo não tem futuro, não tem espaço para expandir. Você não pode depositar todo o crescimento do país em cima do BNDES. Isso é um absurdo", critica.

Na visão de Demétrio, o Brasil tem condições de ter cresicmento maior do 4,5%, mas isso exige uma mudança profunda que esse governo não tem condições de implementar. "Eles sabem que precisa ter toda uma transformação de infraestrutura e outra série de mudanças institucionais que o PAC, por exemplo, não vai resolver. Está provado que não resolve. Precisa de coragem para mudar tudo. Temos que ter outro tipo de desenvolvimento, esse aqui está vencido. Ou vamos ficar eternamente exportando minério de ferro para a China, a proposta é essa? Vamos fazer o que estamos praticando a 500 anos?", questiona.