quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O CRASH DO DÓLAR , AS AÇÕES PONTUAIS DAS NAÇÕES: ECONOMIA VERDE É PARA DEPOIS.

O Tony havia falado lá no início da crise, num texto de 2009, sobre necessidade de mudança dos paradigmas de produção & consumo na economia mundial. O discurso de Obama, de ontem, é a aceitação da necessidade de inversão desses paradigmas. Ou, pelo menos, é uma inversão controlada pelo contexto político e social interno.

O State of the Nation de Obama reconheceu explicitamente a decadência do império americano e soa como um clássico discurso desenvolvimentista, mais comum entre emergentes. O governo americano não tem se furtado a promover ações que vão na direção de defender seus interesses e entre elas está a depreciação do dólar como instrumento de defesa, barateando as exportações e encarecendo as importações. Lá trás o buy America já tinha anunciado para onde as coisas caminhavam.

Seria uma ação muito natural partindo de uma país que quer superar todas as suas dificuldades em meio à problemas, como a questão das hipotecas, quase que insolúveis. Em se tratando de um país cuja moeda é referência do comércio internacional a coisa complica muito, pois quando os americanos depreciam sua moeda complicam de forma apreciável a vida dos países que têm na exportação uma atividade importante. Os que, como nós, exportam commodities ainda podem se beneficiar, por enquanto, da bolha especulativa. Os que, como o Japão ou segmentos internos brasileiros da indústria armada para exportação, dependem da exportação de industrializados têm e terão problemas. O primeiro ministro japonês já fala abertamente em medidas do Banco Central para conter a apreciação da moeda nacional.

É o Trilema de Rodrik em ação. Fica muito difícil alinhar interesses nacionais e comunidade internacional, sob a pressão política interna dos eleitores.

Estamos vivendo um período de reordenação que vai mais além do que a emergência de um mundo multipolar. O mundo multipolar é a consequência do desmonte do modelo bipolar que iniciou com a dissolução do bloco socialista. A competição entre os blocos foi um poderoso motor de crescimento do lado do bloco ocidental. Encerrada a fase competitiva a necessidade de ampliação da reprodução do capital gerou as bolhas especulativas alimentadas pelo consumismo levado ao seu limite. Enquanto a política de competição de blocos tinha um quê de estabilidade econômica no longo prazo, a produção de bolhas especulativas é um modelo instável, muito semelhante às bolhas de sabão: Crescem, se multiplicando rapidamente em ações laterais até o estouro.
Comparando a estabilidade do mundo bipolar com o mundo das bolhas e da transição é fácil entender que um personagem do peso de Eric Hobsbawm tenha considerado como melhor época do capitalismo justamente o período pós-guerra.

A feição real deste mundo ainda não está clara. Por enquanto estamos, ainda, na fase do “cada-um-por-sí-e-deus-por-todos”.
Também não está claro qual será o “novo motor” do crescimento mundial. Tempos atrás parecia que as questões mais diretas de sobrevivência da humanidade e o desafio do aquecimento global iram colocar em evidência a nova economia, a “economia verde” e que nela estariam os elementos de constituição do novo motor. Contudo o modelo atual, naturalmente, resiste e o discurso de Obama mostra isso bem claro. É esta a ficha que ainda não caiu.

Demetrio Carneiro