A indefinição do que realmente é fazer oposição foi uma das vertentes que levaram ao fracasso de 2010. Na lógica de Serra o “pós-Lula” seria a única alternativa para não bater de frente com a imensa popularidade do ex-presidente. Para evitar perder preferiu...perder. Talvez tivesse em vista a leitura gentil de FHC, às vésperas da primeira vitória de Lula, em que o antigo presidente defendia a “normalidade” da rotação de poder. Bem, Lula não é muito chegado mesmo a gentilezas. Principalmente com um adversário histórico como Serra.
Depositar a culpa em Aécio, que tem sim a sua parcela, mas não na dimensão proposta, é uma forma de diluir os erros, mas o principal, o substancial foi mesmo da estratégia de valorizar o marketing eleitoral e, dentro do marketing, imaginar que seria muito fácil trocar alho por bugalho, desde que o bugalho estivesse vestido no modelito “eu sou (muito mais) competente”.
A insistência no bate-bate casual e pontual aliada ao completo abandono do debate programático e somada às atitudes fundamentalistas no final da campanha se encarregaram do resto.
Aparentemente a oposição se satisfez com um rápido balanço de suas “vitórias”: Tantos milhões não votaram, por Lula, em Dilma. Tantos governadores foram eleitos.
Seria correto se este capital eleitoral, os tantos milhões que não votaram, tivesse algum uso capacitado e objetivo. De momento a única proposta oposicionista parece ser continuar batendo. Será e está sendo, natural a diluição deste capital e sua pulverização frente à vida real.
Os tantos e tantos governadores eleitos se preparam para uma “política de governadores” que historicamente entre nós é de aproximação com o poder. O Serra hoje candidato à presidente do PSDB e “oposicionistassísimo” difere do Serra-governador, silencioso e circunspecto. As engrenagens de poder a partir do Executivo imperial não “permitem” que governadores e prefeitos se articulem enquanto oposição real. Entre nós estados e municípios não são entes verdadeiramente autônomos. Não é esta nossa cultura. Não é esta nossa história e muito menos a vontade desses principais.
Seja como for o praticismo serrista, rapidamente assimilado por toda a oposição, ao renunciar ao debate programático também renunciou ao debate claro de seu próprio programa. A oposição está condicionada, portanto, a ser oposição por ser oposição, num tautologismo banal de “ser porque é”. Governadores ou prefeitos ou parlamentares da suposta base de oposição e que resolverem entregar os pontos poderão ser acusados do quê exatamente. De não assumirem o programa “secreto” de Serra, divulgado na semana anterior às eleições? De se aproximarem de um governo que com certeza em algum dia do futuro será corrupto e imoral?
O bate-bate pode ser mais tranqüilo. Não pensar e acusar dá menos trabalho, mas é um beco sem saída onde oposicionistas ficarão debaixo da jaqueira esperando a fruta cair. Vamos torcer para que não caia na nossa cabeça.
Demetrio Carneiro