segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

DILEMAS DA OPOSIÇÃO 1

Acho natural que o início de um novo governo gere na oposição alguns dilemas.
Ai vai a minha lista pessoal. Imagino serem possíveis muitas outras listas, com muito outros assuntos. Este é um debate a ser feito agora.

Aqui vai o primeiro, depois irei postando os outros:

Podemos esperar que Dilma seja presidente do país e não representante do hegemonismo petista na presidência da república?

Dilma tem enviado mensagens ambíguas também ai. Ao mesmo tempo em que forma um ministério privilegiando o partido se move, como na questão do Irã, de forma diferente do script original. É certo que o PT também é, como o PMDB, uma federação e é provável haver grupos não tão chegados à inflexão feita na política externa. Mudou a postura.
O problema é que mudança de postura pode ser mera adaptação ao terreno e não implica em abrir mão do hegemonismo, visto aqui como controle absoluto da máquina pública. É neste ponto que precisamos fazer uma clara distinção entre cargos que decidem políticas e cargos que movimentam as políticas. O hegemonismo suplanta a necessária profissionalização do agente público e acaba substituindo-a pela ideologização da prática de gestão. Precisamos entender que há diferenças entre políticas de Estado e políticas de Governo. O hegemonismo conduz às políticas de governo e as confunde com políticas de Estado. Parece um debate bobo, mas o processo hegemonizante nas políticas públicas leva a resultados completamente diferentes. UM evidência disto é a sutil mudança de conteúdo curricular que se realiza em toda a área de educação em favor de leituras comprometidas com a visão de processo petista. A piada de mal gosto proibindo um texto de Monteiro Lobato foi apenas a manifestação mais extrema da ação destes grupos ideológicos dentro do sistema de ensino.

Acho que se há uma clivagem a ser feita terá que iniciar por aqui, pois um dos papéis mais fortes que poderá caber à oposição será justamente o debate sobre as diferenças entre políticas de Estado e políticas de partido.
Se cabe a uma oposição legítima controlar a situação este será um dos diversos controles a serem feitos.

Do topo para a base federativa fica muito difícil separar as origens oposicionistas e situacionistas, mas a pergunta pode ser recolocada substituindo a presidente por governadores e prefeitos. 
Tudo o que se pode esperar é que os oposicionistas, que o sejam lá no plano federal, tenham competência suficiente, e vontade, para distinguir nas suas práticas de atuação local a participação na gestão do silêncio subserviente perante às práticas hegemônicas petistas.

Esta questão reflete um segundo dilema, que discutiremos no próximo post: É possível ser oposição estando num governo de situação? 
Ou o fato de estar no governo comodamente “elimina” este tipo de preocupação, como parece já estar acontecendo em alguns locais?

A saia justa haverá de ser a dela ou dos outros principais. Espero.

Demetrio Carneiro