domingo, 16 de janeiro de 2011

MUDANÇA DE LÓGICA NA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA?

No início deste mês de janeiro o governo do Irã fez convite a alguns governos estrangeiros para uma visita às suas instalações nucleares. Convite que deveria ser feito à agência multilateral específica de energia nuclear e não diretamente a um país ou outro. Daí a diplomacia americana ter denominado de “tour nuclear” a iniciativa.
Os convidados foram aqueles que o Irã designa como “países-não-alinhados”, entre estes o Brasil e a Turquia, os principais membros do Conselho de Segurança da ONU, EUA, China, Reino Unido, França, Rússia e Alemanha e a União Européia.
Evidente a intenção de questionar, na prática, a legitimidade da ONU e de sua agência de energia nuclear.

Agora, o governo brasileiro responde ao convite declinando. Posição acompanhada pela Turquia. Lembrando que ambos foram parceiros da tentativa de um acordo lateral dentro das regras iranianas, acordo prontamente refutado pela comunidade internacional.

Vale destacar a ação de refutar o convite pelo fato de talvez estar sinalizando uma nova guinada na nossa política externa e seu retorno às atitudes mais tradicionais de nossa história diplomática.

Sob a influência de Lula e seu fiel escudeiro, na realidade o verdadeiro Ministro das Relações Exteriores brasileiro, Marco Aurélio Garcia, nossa política externa sofreu forte inflexão na direção da visão de um mundo de fortes oposições “pobres x ricos” ou “norte-sul”, onde a qualidade maior era ser “pobre”, independentemente de ser uma ditadura ou um regime de vocação militar agressiva.
Este maniqueísmo levou nossa política externa à diversos equívocos como a tentativa de intervir na situação interna de Honduras, as declarações de apoio ao regime cubano qualificando a oposição política interna como coisa de bandidos comuns, a ambígua posição com relação as FARCs, a criação da UNISUL como um mecanismo contra a OEA, que seria uma criatura dos “ricos”, as fracassadas tentativas de se colocar como interlocutor válido na questão palestina, à equivocada “política africana”, o firme apoio às intenções hegemônicas e autoritárias de Chaves. A lista é grande e pode ser fechada com chave de ouro citando o apoiamento para as ações iranianas não só na questão nuclear, mas também às suas ações no âmbito da América Latina, vide acordo Irã-Venezuela.

Este comportamento de alinhamento com a comunidade internacional merece ser saudado. Importante que permaneçamos nesta rota, pois o mundo é outro. Bem diferente daquele que está nas cabeças de Lula e Marco Aurélio Garcia.

Demetrio Carneiro