domingo, 30 de janeiro de 2011

DILEMAS DA OPOSIÇÃO III: A AVALIAÇÃO DO GOVERNO DILMA

O que vem primeiro? O ovo ou a galinha.

Há duas formas possíveis de fazer um debate de avaliação do governo Dilma. O se parte da conjuntura e se deduz tudo a partir dela ou se parte um olhar fundado na questão programática e, usando, ai sim, a conjuntura, se faz a avaliação.

Na primeira ficamos nas questões conjunturais e com base em nossos princípios (Que seriam quais? A ética?) fazemos projeções para o nosso futuro. O complemento seria “ser cuidadoso” e ir avaliando item por item o que presta e o que não presta. O que apoiamos e o que não apoiamos. Em 100 entre 100 tentativas este estilo de debate termina ou no completo antagonismo do nada presta e tudo fede ou, no lado inverso, na mais simples adesão fisiológica. Corremos o risco de uma oposição situacionista.
Depois de oito anos na seca e com perspectiva de mais quatro ou oito a oposição está mais para achar valores ocultos e inimaginados em Dilma do que para exercer a alegre e rejuvenescedora atividade do bate-bate.
O forte apelo do auto-reajuste, incontestado e resignadamente aceito por todos, dos parlamentares, do belíssimo reajuste do Fundo Partidário mostram bem com o que estamos lidando e como uma análise baseada apenas em conjuntura pode ser adequada.

Uma outra opção pode ser partir de uma proposta programática e avaliar o desempenho do governo Dilma a partir daí, ai sim usando os instrumentos de análise conjuntural.

Os exemplos possíveis são muitos:

Na questão ambiental a Belomonte ou a inexistência de propostas concretas quanto à Nova Economia.
Na questão das reformas o “alto custo” de fazer as reformas mais importantes.
Na questão da Estabilidade a resistência no ajuste fiscal e todas as consequências resultantes.
Na questão da equidade a inexistência de propostas concretas para além do assistencialismo.

E ai por diante. A lista pode ser muito grande, mas o que pode ou não “aproximar” mais ou menos a oposição do governo terão que ser os parâmetros programáticos e não os pragmáticos. Do contrário vamos estar sempre patinando e, no fundo, bem lá no fundo, mesmo que não se admita, contando com um governo desastroso para buscar a alternância de poder.

Claro que esse segundo viés depende da percepção de que haja um programa possível. Aqueles que acham que os episódios do passado eliminam o futuro e qualquer projeto possível de fato ou que nossa capacidade de inovar nas proposta ou na ação política estão eliminados terão enormes dificuldades de entender ou mesmos aceitar que sequer exista uma questão programática. Ai, de fato, só resta a "operação" da política pelo referencial do oportunismo. Aliás, o referencial que "deu certo" e elegeu o PT. Talvez por isto muito já não vejam muita dificuldade em "se aproximar" do viés petista. 

Seja como for, não termina ai. Avaliar o governo Dilma envolverá, também em principalmente, fazer o que a oposição se recusou a fazer durante todos os anos anteriores a campanha de 2010: Discutir um programa e pô-lo à prova no debate público, sendo capaz de apresentar proposições que contraponham o que parecer incorreto ou mal formulado.
Isto exige uma coisa chamada “capacidade-de-resposta-articulada-e-fundamentada”.
A oposição tem essas partes em diversos níveis, mas é incapaz de juntar as peças a produzir ação e jogar o jogo verdadeiro.

Por isto mesmo está perplexa e procurando, já agora, a bóia de salvação em 2014.
Será o Aécio? Será o Alckmin? Mas e se o Lula voltar? E se Dilma fizer um bom governo? Normalmente a teoria da bóia “esquece” prudentemente as duas últimas possibilidades.

No final isso implica em atropelar as eleições de 2012 e, desde já, fornecer todas as desculpas para o mais simples fisiologismo.

Demetrio Carneiro