segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

INFLAÇÃO E CORTE: O CHOQUE DE REALIDADE

Segundo o Boletim Focus, que nada mais é do que o resultado das expectativas dos especialistas de mercado, a expectativa é de alta da inflação. Agora, 2011, e em 2012.

Ao contrário do que muitos imaginam não se trata de profecia auto-realizável no sentido de que o “mercado prefere” juros mais altos proporcionados por uma inflação mais alta e, então, prefere ver a inflação em alta. Parece uma lógica bem primária, mas tem quem pensa assim.

O que realizará a inflação em alta envolve a alta de alimentos, mas também envolve uma política pública de gastos focada no uso político como estratégia de poder dos recursos públicos.

Atualmente a avaliação é de que, no governo central, um corte eficiente o suficiente para “desaquecer” a economia o suficiente e manter a inflação em patamares razoáveis envolve algo por volta de R$70 bi. Se tivermos em conta que, no Orçamento de 2011, as chamadas Despesas Discricionárias autorizadas, um dos poucos lugares onde “dá para cortar”, estão na casa de R$ 80 bi, dá para entender o tamanho do abacaxi que terá que ser descascado.

As escolhas são:

a) Cortar fundo e correr o risco de ter problemas sérios na base de governo, essencialmente fisiológica e já bastante insatisfeita com a partilha do botim, desculpe dos cargos;

b) Não cortar tão fundo, empurrar com a barriga, e conviver com um patamar de inflação mais alto, tendo que compensar com altas na taxa de juros. Lembrando que as altas nas taxas de juros andam extremamente impopulares entre nós e sua redução foi uma das promessas mais fortes de Dilma.

Seja como for o atual governo segue tutelado pela, essa sim, “herança maldita” do governo anterior, que jogou todas as suas cartas na recuperação fulminante do PIB com intenções nitidamente eleitorais.
Na prática Dilma é herdeira e cúmplice deste projeto.
Resta saber se ela tem um plano B. Até aqui não está anunciado. O lado mais visível são as falas de orientação nacional-desenvolvimentista de Mantega e sua obsessão cambial.

Ainda na questão de se ter um projeto, em artigo publicado hoje no Estado de São Paulo Fernando Henrique Cardoso chama a atenção para o fato de que os altos preços nas commodities, que têm ajudado e muito, não são eternos. De fato, seguindo a lógica já conhecida das bolhas especulativas em algum momento esta também vai estourar. Se olharmos para os investimentos diretos estrangeiros e seu papel central no financiamento de nosso crescimento é bom que também percebamos ai outra fragilidade desse modelo.

FCH fala em ausência de estratégias. É verdade. Em meio aos aspectos vantajosos dos eventos do resto do mundo, commodities & e recursos de investimento, deveríamos estar sabendo o quê e como usa-los em prol de um modelo mais sustentável. Aqui, também, parece não haver um plano B.

Demetrio Carneiro