Parte importante da função de um BC é antecipar movimentos nos preços, inflação, e sinalizar um procedimento futuro como forma de orientar um certo comportamento da economia em geral que lhe pareça interessante. Se o BC pressente uma tendência de alta de preços ele sinaliza criando expectativas sobre a possibilidade uma taxa de juros básica maior etc.
Parte da arte é ler os sinais outra parte importante do papel dos analistas de mercado é prever como o BC poderá reagir perante fatos futuros.
É o que o Volpon vai fazendo nessa matéria do, abaixo, Valor Econômico. Repercutida pelo Blog do Carvalho.
Vale observar que o argumento do BC está ancorado na situação travada dos países desenvolvidos e na convicção de que o mercado interno ou a situação da China não impactarão os preços internos. É a leitura de que o ciclo de altas dos juros momentaneamente está interrompido.
Um exemplo de desacordo com essa leitura é um texto de Mendonça de Barros, publicado no Estado, onde afirma que a economia européia está se recuperando e deverá dar sinais positivos e consistentes de crescimento. Essa é a leitura de que a trégua no ciclo de aumentos poderá ser menor do que se imagina.
Seja lá como for o que deve ficar evidente é a situação de “limite” colocada pela agressiva política fiscal do governo brasileiro.
Bom registrar que a atual política fiscal tem explicações muito mais políticas do que “técnicas”. A atual expansão fiscal brasileira é uma escolha marcada por razões ideológicas e de poder real.
O fato é que a margem de negociação é sempre muito reduzida e elementos internos e externos são capazes de interromper muito rapidamente situação de baixa ou calmaria no preço dos juros básicos, retomando-se com muita velocidade ciclos de alta, deixando nosso juros básico reais sempre entre os mais altos do planeta.
Essa é uma situação de vulnerabilidade macroeconômica muito pouco consistente com um crescimento que seja sustentável, que é o nosso grande desafio nesse século.
Demetrio Carneiro
Indicadores podem indicar uma direção
Eduardo Campos
Depois do susto da quarta-feira, o pregão de ontem foi inconclusivo, transparecendo certa indecisão entre recompor ou seguir desmanchando posições em ativos de risco.
Também não poderia ser muito diferente, já que os agentes seguem questionando o ritmo de recuperação da economia global.
Na Europa, a Bolsa de Londres teve valorização, mas Frankfurt voltou a perder fôlego. Em Wall Street, os índices também fecharam em baixa, mas longe das mínimas do dia. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) garantiu fechamento em alta. E o euro teve um pregão errático, assim como o real, e acabou cedendo espaço para o dólar.
Os dados que estão na agenda desta sexta-feira podem ajudar o mercado a ganhar alguma direção mais definida. O dia começa com o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro no segundo trimestre. O consenso sugere crescimento de 0,70%. (veja gráfico abaixo)
Já nos Estados Unidos, os investidores aguardam o índice de preços ao consumidor referente ao mês de julho. A expectativa é de inflação de 0,2%, depois da variação negativa de 0,1%. Os dados de preço ganham peso especial conforme cresce a preocupação com uma deflação na economia americana. Vale lembrar que o núcleo da inflação, que tira alimentos e energia da conta, continua rodando ao redor de 1% em 12 meses, abaixo, portanto, da chama zona de conforto do Federal Reserve (Fed), banco central americano, de inflação ao redor de 2%.
Ainda na agenda americana, atenção às vendas no varejo de julho e à preliminar do índice de confiança do consumidor.
De volta ao pregão de quinta-feira, o mercado com rumo definido foi o de juros futuros.
Os contratos longos caíram com ajuda dessa deterioração de expectativas com a economia mundial.
Apesar da queda recente nas taxas, o chefe de pesquisa para América Latina da Nomura Securities, Tony Volpon, identifica uma clara divisão entre os "falcões" locais, que mantêm uma visão cética quanto ao menor ciclo de aperto monetário, e os investidores estrangeiros, que estão cada vez mais interessados no rendimento oferecido pelo Brasil dentro de um mundo deflacionário.
Para Volpon, o Banco Central claramente fez uma aposta com a turma da deflação. Afinal, não há cenário para um problema inflacionário em um mundo de fraco crescimento em países desenvolvidos.
O que segue válido mesmo com os emergentes crescendo apoiados em sua demanda doméstica.
Na visão do especialista, o BC compartilha dessa visão e já sinalizou que está olhando além de qualquer impacto residual que o crescimento chinês do primeiro trimestre tem sobre a inflação de 2010 e terá na de 2011.
A chave para esse raciocínio de Volpon foi a extensão do horizonte de previsão do BC para 2012. Vale lembrar que, na ata da reunião de julho, o BC fez considerações sobre a inflação no primeiro semestre de 2012.
Segundo o especialista, como o BC acredita que o cenário externo carrega um risco substancial de baixa, ele olha além da retomada dos índices de inflação e atividade, algo que deve começar a acontecer em breve. O próprio Nomura prevê IPCA ao redor de 0,35% já em setembro.
A conclusão, segundo Volpon, é que há oportunidade de ganho com aplicação na parte longa da curva de juros.
Os contratos curtos devem subir conforme os dados voltarem a apresentar variações "normais". Por isso, a recomendação é esperar um pouco mais antes de aplicar.