O banco Goldman Sachs é velho conhecido nosso, além da participação ativa nas negociações sobre a nossa Dívida Pública é de lá que veio o conceito de BRIC que acabou colando no grupo mais consistente dos chamados países emergentes. Como veremos adiante a questão está em definir o que significa exatamente ser “emergente”, no sentido de ir além do efeito midiático.
Segundo estudos do banco, mantidas as atuais condições, em 2032 seremos a 5ª maior economia do mundo, mas se falarmos em termos de renda per-capita, que é o PIB dividido pela população, estaremos no 47º lugar. De fato será uma evolução, pois, segundo o FMI, estávamos em 74º em 2005 – US$3.970,00 - e 55º em 2008 – US$ 7.300,00.
Em 2009 nossa renda per capita foi de US$9.318,00. Em 2010 provavelmente ultrapassaremos a marca dos 10 mil dólares.
Entre 2003/2007 fomos a 10ª economia do mundo. Em 2008 fomos a 8ª.
Contudo nada disso impediu que o relatório do PNUD para 2009 nos colocasse como 75º no ranking do Índice de Desenvolvimento do Milênio, que é o índice que melhor reflete a questão da qualidade de vida. Da mesma forma o PNUD dá a medida de nossa concentração de renda: Somos o terceiro país mais desigual do planeta, apenas melhores que Bolívia, Madagascar, Camarões, Tailândia, África do Sul e Haiti. Para cada um dólar de renda recebido pelos 10% mais pobres da população, sessenta e seis são recebidos pelos 10% mais ricos. Precisa falar mais?
Evidentemente o trabalho do Goldman Sachs é um exercício de futurologia, partido de hipóteses fundadas nesse presente. Sabemos que quanto mais longo caminharmos na linha de tempo mais imprecisas serão as previsões.
Mas aceitemos como uma hipótese validade de trabalho. O fato é que “mantidas as atuais condições”, a famosa cláusula ceteris paribus da economia, nossos avanços em termos de PIB serão modestos e mais ainda em termos de IDH ou concentração de renda, certamente.
Entre 2003/2008 tivemos o “bônus da expansão mundial”, nas palavras de Delfin. Entre agora e 2030 teremos o “bônus demográfico”. As vantagens do bônus de expansão da economia mundial ficaram evidentes na expansão do PIB brasileiro, mas não se refletiram com tanta eficiência sobre a qualidade de vida das pessoas. O bônus demográfico, se não considerado nas estratégias de governo dos próximos anos tenderá a piorar o quadro.
Para quem não acompanha o debate o bônus demográfico é uma característica detectada por especialistas em demografia para as próximas décadas. Segundo estudos a população mais jovem brasileira deverá crescer muito além do estimado. Na realidade passaremos por um período de inversão de nossa pirâmide etária. Atualmente nossa pirâmide tem o formato tradicional: Maior na base e menor no ápice. Proporcionalmente muito mais pessoas jovens do que pessoas mais velhas. A partir de 2030 a pirâmide irá se inverter e teremos proporcionalmente muito mais pessoas velhas que novas, seguindo o padrão dos países mais avançados.
Será, em parte, esse crescimento além do previsto um dos fatores que irão nos fazer praticamente estacionar tão baixo do ranking, se pensarmos em termos de renda per capita. Como crescimento econômico não significa justiça social é muito provável que indicadores como IDH ou concentração de renda também não mudem ou até piorem, já que são necessárias mudanças estruturais. De 2010 à 2030 mais jovens poderão ser mais jovens desempregados e mais crise na Segurança Pública. De 2030 em diante mais idosos poderão ser mais idosos desassistidos e mais crise na Previdência.
O estudo do Golden Sachs atribui o baixo crescimento do PIB per capita ao incremente populacional, como citamos e ainda à baixa produtividade da economia. Nesse último caso coincide com o documento da Confederação Nacional das Indústrias, “A Industria e o Brasil”, formalmente entregue aos candidatos à presidência.
Nosso problema é que produtividade é resultado de investimento, formação de mão de obra e ambiente institucional. Embora empresas privadas invistam sabemos que o mesmo não se dá com o Estado e com as famílias. Da mesma forma sabemos que formação de mão de obra é resultado direto do investimento em educação. Assim como sabemos que ambiente institucional não aparece do nada. É resultado de compromissos que devem ser assumidos com clareza.
O excepcional período de 2003/2008, embora tenha nos trazido grandes mudanças, foi navegado, mas não foi usufruído. Necessitamos de muito mais mudanças e transformações se pretendermos que as previsões não se confirmem no sentido de que os resultados poderão ser melhores para todos e não apenas para alguns. Mas não será com demagogia ou políticas assistencialistas que chegaremos lá. Nosso desenvolvimento terá que se fundar na lógica de transformações profundas.
Demetrio Carneiro