Uma das marcas políticas mais fortes dos últimos anos tem sido a despolitização da política. Todo um conjunto de fatos e atitudes, desencanto/aparelhamento/ingresso de um eleitorado destituído de formação em cidadania, contribuiu para esse fato e deixo para outro momento uma avaliação mais aprofundada, embora ache que teremos que passar por ai para entendermos melhor o atual quadro eleitoral e suas consequências.
O fato é que a despolitização produziu e produz seus efeitos. Nesse ambiente a existência coesa dos blogs que debatem a política pode ser um fator relevante e uma força segurando a onda anti-republicana, alienante.
A blogosfera que debate a política aqui no Brasil, fora os blogs de jornalistas profissionais, é marcada por blogs nitidamente situacionistas, blogs nitidamente oposicionista e uma grande maioria de blogs que se limitam a reportar os fatos da mídia, mas cujas escolhas acabam evidenciando uma maior ou menor inclinação pró ou anti-governamental.
De modo geral a compreensão é que a rede é o lugar da diversidade e que há espaço para todos.
A compreensão também é que, mesmo que feitos profissionalmente, via fontes de recursos de patrocínio, os blogs são essencialmente privados.
Do estrito ponto de vista da oposição o quadro indica: Blogs de claro comportamento de oposição, principalmente partindo dos liberais. Alguns apenas críticos, num sentido muito amplo. Outros críticos e propositivos.
Acredito que estamos no início de um outro processo: A organização na blogosfera de um grupo de blogs pró-governamental articulada a partir de financiamento por estruturas pró-governamentais. Enfim, o aparelhamento chegou na blogosfera.
Estou me referindo ao 1° Encontro de Blogueiros Progressistas realizado entre 20 e 22 de agosto passado em SP, no Sindicato do Engenheiros, promovido por Nassif e Amorim e financiado, entre outros menos famosos, pela fundação do PT, a Perseu Abramo e a CUT.
Também não pretendo discutir o auto-rótulo "progressista". é direito deles se auto-rotularem como bem entenderem. Apenas me dou ao direito de achar que não é bem isso.
Também não discuto gosto.
Numa lista de debates que participo um dos integrantes, um blogueiro, perguntou “o que é que tem o ‘de onde vem o recurso’?”. Seja um estranho gênero de cidadão ou o que quer que seja, de qualquer forma, ele está no direito dele, já que o blog é dele. É assunto privado.
Que o aparelhamento se estenda à blogosfera não me surpreende, assim como não me surpreendeu o arranjo providencialmente pré-eleitoral, como no eventos de mulheres, cultura, jovens etc.
Que o aparelhamento seja feito via recursos públicos também não surpreende.
Duvido muito que essa turma ponha a mão no bolso para isso, embora alguns já estejam razoavelmente bem de vida. Falo em recurso público, pois essas estruturas para-estatais como a CUT ou a Perseu Abramo são financiadas por recursos públicos.
A CUT pela contribuição sindical, que é um confisco com autorização estatal, por tanto é recurso público e a Perseu Abramo porque funciona com recursos do fundo partidário do PT. Recurso de fundo partidário também é recurso público.
Muito bem. É direito deles.
Mas é nós blogueiros independentes que não concordam com tudo que vem ocorrendo nesse país? Será que também não estaria na hora de buscarmos formar uma rede coesa onde cada um mantivesse sua independência, mas que nos falássemos e apoiássemos?
Se o debate político na blogosfera é importante, se a nossa autonomia é importante, também é importante o apoiamento mútuo. O que pode vir por ai não é pouco. Acredito que está na hora de romper barreiras de grupos ou o isolamento individual.
Demetrio Carneiro