Há o debate sobre a continuidade do governo Lula. Se continua melhorado parece que é a vontade de todos os candidatos. Então o debate deveria ser mais sobre o que é que vai continuar.
Já não é mais segredo, nem novidade, que o projeto de Lula é a construção de um regime de Capitalismo de Estado.
Se não faltassem comprovações bastaria a leitura da participação dos recursos do Tesouro Nacional que passaram de 6% em 2001 para 40% em 2009. Em termos mais imediatos já foram injetados 80 bilhões e há autorização para mais 80. O detalhe é que é recurso público captado no mercado ao preço dos juros aturais, mas repassado ao tomador subsidiados. Enfim, cria-se Dívida Pública para subsidiar um projeto de crescimento de segmentos escolhidos a dedo pela burocracia estatal. São esse recursos que irão, por exemplo, subsidiar a compra de carvão boliviano para tocar as “modernas” usinas termoelétricas de um certo amigo do Rei.
Há mais um exemplo possível na questão da “democratização” do acesso à internet. Foi montado todo um cínico discurso sobre a Telebrás e a urgência de dar ao Estado a capacidade de pulverizar no território nacional a rede. O que foi a especulação com os papéis da ex-falida empresa ainda deverá um dia ser objetio de investigação e certamente será mais um caso de polícia envolvendo os personagens de sempre. Agora aparece a outra ponta: O principal acionista dessa maravilha de esforço nacionalista será uma empresa estrangeira, a Portugal Telecom (por acaso mais conhecida como PT!). Enfim, mais de 900 empresas brasileiras, capacidatas, foram postas para escanteio para abrir espaço para a futura “gigante” estatal e suas associada estrangeira.
Para não cansar com muito exemplos podemos citar agora a maravilhosa operação de swap cambial defendida por Mantega. Aparentemente o objetivo seria melhorar o desempenho cambial e retirar a pressão sobre a apreciação do real. O único problema é que, como no caso do BNDES, a avaliação acurada acaba mostrando que há outros ganhadores e certamente não será a nação, conforme matéria do Valor Econômico baseada na avaliação de especialistas do mercado.
Essa é justamente as marca do regime de Capitalismo de Estado: Uma funda associação política entre a tecno-burocracia estatal e os grandes interesses econômicos. Por trás do discurso “social” ou até “socialista” do Estado + forte, do Estado mais competente, do Estado diretor do desenvolvimento, está a aliança que sustenta e é sustentada, vinculando os segmentos para-estatais, partido políticos, políticos, dirigentes governamentais e os segmentos do poder real na sociedade. Certamente “continuar” Lula não se trata disso e é preciso que fique muito claro.
É essa a clivagem feita por FHC em matéria publicada hoje no Estadão.
Demetrio Carneiro