É da prática política traçar horizontes, mesmo o mais negativo.
Independentemente das claras falhas na condução da campanha de Serra um fato é inegável: Há décadas que não vemos uma campanha eleitoral presidencial conduzida com tanta desenvoltura a partir do presidente em exercício. Acredito que o exemplo mais próximo historicamente está na Velha República.
Não está havendo exatamente uma transferência de votos de Lula para Dilma. Está havendo é o esmagamento da oposição pela força e pelo poder exercido na gestão pública. Pode parecer um nome forte, mas as avaliações no futuro mostrarão o quanto esse processo é fraudado. Fraude que não é denunciada por aquilo que é o erro mais sério: A intocabilidade de Lula. Intocável, inatingível Lula comanda pessoalmente o processo de desmoralização de nossas instituições republicanas e democráticas.
Estamos reeditando a República dos Coronéis, com todo o patrimonialismo que lhe é inerente, sob o disfarce de uma pseudo República de Esquerda, esquerda da hegemonização e do aparelhamento, cujo grande mote seria erradicar a miséria e a desigualdade, mote apenas, pois os fatos estão ai evidentes para indicar que não apenas não rompemos com a desigualdade como também estamos é construindo um forte regime de Capitalismo de Estado na mais rigorosa acepção do termo. As alianças entre os grupos econômicos mais poderosos e a tecno-burocracia estatal via partidos políticos são evidentes. A manipulação das estruturas reguladoras para a facilitação dos oligopólios deveria ser escandalosa, mas não surpreende mais.
Agora ficamos assim, caso vença Dilma o que nos reserva o futuro?
O Estado de São Paulo trás em sua primeira página uma avaliação do avanço do PMDB, na realidade a consolidação da vitória do “centrão” com toda a sua negatividade. Mas também trás uma avaliação sobre as posições finais na Câmara Federal e no Senado.
Para a Câmara a previsão é da eleição de 380 deputados federais da base governista, contra possíveis 513 vagas. A maioria absoluta está em 342 deputados. Para o Senado a previsão é de 54 senadores da base, para 81 vagas possíveis. A maioria absoluta está em 54.
Essas contas dariam a Dilma um verdadeiro “mar de almirante” na condução das votações no Congresso, mas dão ao PMDB poder absoluto de pressão sobre o grupo de petistas e aliados mais próximos. Não por acaso já se lançam balões de ensaio sobre a reivindicação de metade dos ministérios etc. Se a prática eleitoral foi a de República Velha, certamente o governo irá reproduzir todos os seus vícios e hábitos.
Nesse quadro que espaço teria a oposição? Como força de pressão institucional dentro do Congresso certamente não terá muito eficiência e é muito provável que estejamos caminhando na direção de uma democradura de maioria parlamentar, com todos os riscos inerentes a esse processo: Um “mexicanização” da política institucional brasileira no caminho inverso do que pretenderam quase todos quantos lutaram contra a ditadura e pelas liberdades democráticas em nosso país. É bem claro que não só o PT irá “avançar” sobre seus aliados mais próximos como forma de se compensar pela força que terá o PMDB, como é bastante claro que terá que dançar no compasso de seu aliado mais forte.
Essa questão coloca luz sobre a importância das eleições de 2012. E, novamente, o poder de pressão da máquina federal.
Seja como for a oposição que sobreviverá a isso não será essa que ai está, sem coesão, sem propostas. O que foi posto de lado pela estratégia marqueteira torta deverá ser priorizado: A questão programática. Sem muita coesão e sem um programa claro, com propostas alternativas objetivas, a caminhada para 2012 poderá ser outra frustração.
Nas palavras de Dilma a estratégia “terrorista” não dará certo. Não se trata de terrorismo, trata-se de luta pela permanência dos postulados democráticos. Disso certamente ela não entende...
Demetrio Carneiro