Conectado tanto com o modelo macroeconômico como com a questão do ciclo poupança/investimento, governamental das famílias, o mercado de oferta de crédito é outro que acaba se tornando um entrave para outro modelo de desenvolvimento.
Como vimos anteriormente a formação do “preço” dos juros básicos é afetada, em primeiro plano, por políticas fiscais que acabam pressionando a ação de governo na direção de aumentar as taxas básicas como meio de conter a inflação. Também vimos que há meios institucionais e operacionais de sair dessa armadilha, desde que haja vontade política para isso.
Mas como fica a questão das taxas de juros para empréstimos, cartão de crédito etc.?
Não estamos falando daquelas subsidiadas por mim ou por você, como ocorre atualmente com o BNDES, e que acabam custando bem barato para os amigos do Rei.
Estamos falando de indivíduos – micro e pequenos empresários informais que pedem crédito pessoal , famílias e empresas que não estejam naquele circulo mais fechado dos privilegiados. Gente normal.
Gente normal vai ao mercado. E o mercado de crédito brasileiro está nas mãos de um verdadeiro oligopólio. Não vamos falar aqui do consumidor desavisado que compra seu fogão em 5 anos e paga o valor de 10 fogões. Vamos falar de recursos necessário à expansão e/ou manutenção de empresas, informais ou não.
Existem fórmulas matemáticas para se calcular se o que se paga pelo recurso emprestado pode ser coberto pelo que se ganhará no futuro. Evidentemente o custo de um empréstimo pode comprometer um projeto de expansão empresarial.
O problema com mercado de crédito oligopolizado como os nosso é que quem empresta tem a liberdade de escolher taxas bem mais altas do que ocorreria num mercado mais competitivo.
É bom lembrar que vivemos num regime de oligopólio autorizado. Lá no início da crise, por conta de reforçar o sistema bancário brasileiro o governo autorizou fusões que encolheram o mercado ainda mais. Oligopolizar é política deste governo.
Não é preciso ser um grande especialista em economia para perceber que ampliar a capacidade de atuação das empresas tem a haver com a democratização do crédito.
Espremido entre os oligopólios e os esquemas de favorecimento dos amigos do Rei o empresário acaba sendo obrigado a um trabalho sub-aproveitado. É bem assim, empresas que não crescem o que podem por falta de recursos são sub-aproveitadas não gerando a renda e os empregos que são potencialmente capazes de oferecer.
Se vamos falar em economia sustentável teremos que falar em democratização do crédito e a única solução é abrir o mercado de crédito. Se o Estado tiver um papel regulatório nessa área terá que ser o de quebrar a estrutura oligopolizada, viabilizando novas instituições.
Mais concorrência = menor taxa de juros.
Calma ai! Não estou falando em intervir nos bancos, estatizar o demônio creditício burguês etc.
Estou afirmando que é possível estimular novas instituições de crédito. Por exemplo, instituições de crédito cooperativo. Elas podem democratizar e capilarizar o mercado.
Nenhuma novidade a legislação já está ai. Já existem cooperativas de crédito. Trata-se de induzir a ampliação do sistema. Se vamos falar em Estado pró-ativo vamos começar por ai.
Demetrio Carneiro