Depois da mega especulação, até hoje não esclarecida, às vésperas das eleições, com as ações da Telebras, agora são as ações da Petrobras.
Seria um fato “normal” se a queda do valor não fosse resultado de uma verdadeira atrapalhada cometida pelo poder executivo à pretexto de fazer um “cessão onerosa” cuja finalidade seria facilitar a capitalização da empresa.
A atrapalhada vai gerar muito prejuízo e muito lucro e a Petrobras, ao contrário da Telebras, é uma empresa de grande porte submetida à lei das SAs.
Vamos torcer para que tenha sido apenas incompetência, na pressa de faturar o bônus midiático durante as eleições ou talvez um viés de “estilo” política eleitoral, como está no texto abaixo. Como não é nossa a escola de responsabilização de autoridades, a tal da “accountability”, certamente ficamos por aqui.
Mas, feita de forma voluntária ou não, essa confusão tem que ser apurada na ponta do mercado de ações.
Vamos torcer para não surgirem das névoas os personagens de sempre...
Demetrio Carneiro
A POLÊMICA DO BARRIL
FONTE:Instituto Millenium/“Brasil econômico”
A capitalização da Petrobras é uma operação financeira normal no mercado. A iniciativa do governo de angariar recursos para viabilizar sua participação na capitalização, através da cessão onerosa de áreas petrolíferas ainda não concedidas, embora introduza mais um regime jurídico na exploração e produção de petróleo e gás natural no Brasil, é também justificável.
Então por que o governo e a Petrobras criaram essa encrenca com a capitalização? Porque o que não é justificável e está causando essa enorme confusão e a queda brutal do preço das ações da Petrobras é a definição de um preço para o barril da cessão onerosa, através da contratação de certificadoras internacionais.
Isso fica claro quando lemos na imprensa sobre a disparidade entre o preço do barril calculado pela certificadora contratada pela ANP e o da Petrobras.
A certificadora da ANP teria calculado o barril entre US$ 10 a US$ 12, enquanto a da Petrobras fica entre US$ 5 e US$ 6. Essas diferenças mostram claramente que, dada a enorme quantidade de variáveis e premissas envolvidas no cálculo do barril, é possível justificar qualquer preço.
No fundo, o cálculo do barril de petróleo por uma certificadora envolve futurologia.
Adotar preço de barril de petróleo calculado por certificadoras é o mesmo que querer revogar a lei da oferta e da procura.
Agora, pasmem, parece que a solução é contratar uma terceira certificadora. No final, o mais provável é que o governo escolha um preço intermediário na casa dos US$ 9.
Quem calcula preço de barril é o mercado. Por isso, a solução correta seria promover um leilão dos barris da cessão onerosa.
A certificadora fixaria o preço mínimo. Mas aí o governo ficou com medo de ser acusado de entregar as riquezas do pré-sal para as empresas privadas nacionais e estrangeiras.
Afinal, o governo precisa manter o discurso populista de que o petróleo é do povo brasileiro.
Não há nenhum impedimento legal para que a cessão onerosa introduzida pela lei fosse efetuada através de um leilão.
Os recursos arrecadados pelo governo no leilão seriam utilizados no aporte da União na capitalização da Petrobras.
Dessa forma, a Petrobras seria capitalizada com moeda corrente, reduzindo o custo financeiro de seus investimentos, que, de outra, forma serão efetuados através de novos empréstimos.
A lei poderia prever ainda que, em caso de participação e vitória da Petrobrás na aquisição de direitos de blocos leiloados, a estatal os pagasse com títulos públicos e que estes títulos correspondessem a uma parcela do aporte do governo na operação de capitalização.
E por que o governo insiste com um modelo que só tem causado incertezas e desvalorização das ações da Petrobras? A resposta é que o governo tem privilegiado o ponto de vista político-ideológico.
A ideia é facilitar o aumento da participação da União na Petrobras e, ao mesmo tempo, privilegiar a Petrobras na cessão onerosa de reservas.
O problema é que quando o barril é fixado entre US$ 5 e US$ 6 a beneficiária é a Petrobras, e quando é de US$ 10 a US$ 12 passa a ser a União.
Como sair dessa sinuca às vésperas das eleições?