O projeto nacional/desenvolvimentista envelheceu. De Getúlio à Lula, passando por todos os presidentes, mesmo os da ditadura, uma notável coerência gera uma linha de continuidade que a todos une.
A partir da década de trinta nenhum presidente eleito ousou não oferecer à nação uma visão desenvolvimentista e um futuro brilhante. Alguns conseguiram, a maioria falhou, mas todos tiveram a firme convicção de que só havia esperança em mais e mais crescimento.
Contudo como continuar crescendo num mundo de mudanças que apontam para outros paradigmas que não são os do atuais: consumo predatório e insustentável, industrialização fundada na matriz do petróleo, destruição ambiental. De fato houve uma época em que o planeta pertencia e servia ao ser humano. Hoje, a duras penas e com acidentes climatológicos em ritmo acelerado o recado que recebemos é que o planeta até aceita parcerias, mas não se deixará destruir impunemente. Soa muito dramático, mas basta ler as manchetes.
No quê dá a soma de reclamações de partes: Juros altos, câmbio sobrevalorizado, custo-Brasil, concentração de renda, exportação de commodities, falta de investimento das famílias e do governo, relações bilaterais fragilizadas, burocracia, patrimonialismo etc. etc.? São todas evidências isoladas ou são parte de um todo e esse todo é justamente uma proposta, um estilo de desenvolvimento ultrapassado porque não satisfaz as demandas de nossa sociedade?
A economia cresce, o país está no lugar certo e na hora certa, mas essa soma altera a qualidade da soma anterior. Não. Não porque crescimento NÃO É desenvolvimento, porque desenvolvimento não pode ser visto apenas como desenvolvimento econômico, precisa alcançar outros momentos: Social, político, pessoal, sustentabilidade etc.
Desenvolvimento é uma totalidade. Soma de diversos momentos e todos esses momentos ou estão “se falando” e se relacionando de forma harmônica ou não teremos o desenvolvimento que queremos. Há sim uma diferença, enorme, entre o desenvolvimento que temos e o que queremos.
Nossa República envelheceu precocemente e o presidencialismo tem ares de monarquia. Nossa federação é apenas nominal e somos na realidade um regime unitário, vertical e centralizado a partir do nível federal. A lista de críticas é muito ampla, mas a questão é que nada disso muda isoladamente.
O projeto de desenvolvimento que queremos terá que ser um salto e ter ousadia ou estaremos fadados a crescer, mas crescer como crescemos até hoje: Sem qualidade para todos e todas. Sem oportunidade para todos e todas. Sem um projeto de desenvolvimento que seja outro, diferente desse atual não haverá assistencialismo ou política afirmativa que resolva. Seremos a oitava, a sétima, a sexta, a quinta, a quarta, a terceira, a segunda e, finalmente, seremos a primeira. Mas, como a China, seremos e continuaremos injustos e desiguais. Injustos, desiguais e desequilibrados pois teremos esgotado, ainda como a China, nossos recursos finitos.
Qual Estado serviria para esse salto trasformativo?
Com certeza não será esse que ai está: patrimonialista, falsamente “aberto” à participação da sociedade civil, mas basicamente manipulador e cooptativo. Não precisamos desse Estado que quer dominar a economia pela lógica de grupos que associam o poder real com o poder estatal em seu único interesse. Não precisamos de um Estado que espolie a sociedade, que tribute de forma injusta os mais pobres, que cinicamente se apresente como distribuidor de justiça social e use isso para garantir a permanência dos mesmos grupos de sempre.
Nunca se tratou de “tamanho” ou tributação máxima. Sempre se tratou de responsabilidade republicana e coesão social.
O Estado que queremos não depende de tamanho para ser eficiente. Depende de vontade política e coesão social. Nada disso se obterá sem uma profunda reforma democrática do Estado. Nada disso se obterá se não houver um pacto de ação entre sociedade civil, mercado – no termo mais geral e não apenas o de capital – e gestão pública.
Da mesma forma a macroeconomia que precisamos terá que ser a que viabilize esse projeto. Terá que ser a macroeconomia que prossiga na política de estabilidade, mas também crie condições para um ciclo de poupança e investimentos. Que propicie um ambiente de juros a câmbio que alavanquem nosso crescimento econômico. A macroeconomia, ela sim, pode ser melhorada pela via da coordenação, hoje inexistente, das políticas econômicas de governo.
Se há um desafio que pode ser feito ao candidato, ao nosso candidato é esse e é o mesmo que podemos fazer à nação: Um outro projeto de desenvolvimento, mas desenvolvimento enquanto totalidade.
Demetrio Carneiro