segunda-feira, 15 de março de 2010

PROGRMA DE GOVERNO: UMA QUESTÃO DE OLHAR.

Poucos dias atrás tive a satisfação de estar numa palestra do filósofo Pierre Lévy, num evento dentro da Conferência Internacional de Redes em conjunto com a Conferência Internacional de Cidades-2010, em Curitiba, Paraná. Na palestra Lévy nos leva a imaginar a web como um imenso texto de criação coletiva, aonde se vão colocando, retirando elementos.

Das conferências falarei em outra hora, por agora quero reter essa imagem do texto coletivo. Nos últimos dias o debate programático que havia ficado apenas nas mãos da situação, dando um cômodo palco para Dilma Roussef expor o que acha e imagina acabou chegando ao campo da oposição. Talvez até por força da aparente falência no projeto de atrair Aécio Neves para compor a chapa com Serra. Aquilo que parecia se desenhar como um confronto de competências acabou caminhando para um confronto de propostas.

Numa interessante sequência tivemos o texto de FHC, a matéria do Estado de São Paulo de domingo sobre Serra, no mesmo jornal um texto de Malan e na Folha de São Paulo uma matéria sobre o possível programa econômico de Marina. Esses textos estão todos interligados e trouxeram em poucos dias um volume de referências que não se viu em meses.

Os textos passeiam pela questão do Estado e da política econômica, mas com olhares diversos. É bom assinalar. Por força da suposta visão estatizante de Serra e Dilma essa parece ser a peça de resistência do debate. Peça falsa, como veremos.

O texto de FHC, que já comentamos aqui no Blog, basicamente trás um tom tranqüilo de mostra que a questão do Estado e das políticas econômicas está subordinada a uma proposta mais geral de modelo de desenvolvimento.

O texto do Estadão sobre Serra, “Serra dá viés heterodoxo ao PSDB”, é, na realidade, uma colcha de diversas notícias que saíram recentemente na mídia. Na verdade não é uma fala do “mistério” Serra. É um amontoado de suposições do que se imagina que poderia ser a política econômica do governador de São Paulo, caso chegue à presidência. Mais suposições sobre o que se imagina que será a equipe. Mas fica a bandeira de Serra no desenvolvimentismo keynesiano e no Estado “ativo” seja lá o que for isto. Não bastasse a figura do superado desenvolvimentismo keynesiano, conceito recém órfão de Dilma Roussef , ser justamente o que há para se superar neste debate, o texto inverte a premissa de FHC e parte do “Estado que queremos” para o modelo de desenvolvimento, como se fosse o Estado o único elemento, o grande e único condutor de tudo. Para coroar com sucesso o texto o seu parágrafo final isola a equipe de FHC e os situa como “ortodoxos” num falso debate, tão ao gosto dos desenvolvimentistas keynesianos, entre heterodoxos e ortodoxos. Deu-me saudade do Oreiro.

Já Malan, "Fatos, versões e bravatas", trata do esquematismo do debate de oposições. Conforme ele “Para um debate sério sobre o País e seu futuro seria fundamental evitar o “nós” contra “eles” no caso o lulo-petismo. Defende “um debate voltado para ‘o que fazer’ com vistas a assegurar a gradual consolidação do muito que já alcançamos como país, e, principalmente, como – e com qual tipo de lideranças – avançar mais, e melhor, no processo de mudança e continuidade que nos trouxe até aqui.

No Caso de marina a Folha também investe no maniqueísmo: “Empresário pró-Marina rejeita rótulo de neoliberal”. Aqui, ao menos, o citado, Eduardo Gianetti, pode argumentar. Embora o título da página “Liberalismo sustentável” já trás tudo o que se quer dizer. Não diria que o veneno não escorre pelas presas, mas, pelo menos, não pinga! O subtítulo é melhor: Economia verde - Propostas em discussão na prá-campanha de Marina Silva. É o que dá brigar com o PT.
De qualquer forma Gianetti coloca alguns pontos nos “is” do debate programático ao sublinhar a importância de questão ambiental, relata considerar importante a questão do capital humano, fala sobre investimentos e em particular sobre o processo de formação de base de capital do BNDES e toca em outros pontos importantes. Na fala dele fica evidente que Estado e política econômica são resultado de uma visão de desenvolvimento e não ao contrário.

Talvez, e enfim, o debate programático tenha começado.

Demetrio Carneiro