quarta-feira, 17 de março de 2010

NÓS E AS CIDADES E A UTOPIA

Tempos atrás postei um texto sobre o socialismo enquanto utopia humanitária. Nele parti de uma constatação bem direta: O socialismo ou é uma utopia humanitária ou não é nada. Não há socialismo sem humanismo. É isto e nada mais o que me separa de Fidel e outros “companheiros”.

Estive semana passada no evento Conferência Internacional de Cidades-2010. Foram dias de intensa atividade de manhã à noite. Pude ver um pouco de tudo o que rola à volta desse tema.

Agora gostaria de falar de uma outra categoria de utopia, a cidade. Me impressionou o número de pessoas que imaginam a sua cidade no futuro. Muito diferente do agora. Me impressionou mais ainda aqueles que imaginam a sua cidade como local de perfeições: Boa relação com o meio-ambiente, ótimos serviços e equipamentos, e, principalmente, a universalização destes serviços e equipamentos criando qualidade de vida. Esse local das perfeições é o “ou”+”topos”, o “não-lugar”. Enfim, as cidades podem chegar a ser esse “não-lugar”?

Atualmente as cidades do planeta ocupam cerca de 3% de seu território total. Outros 12% são utilizados para a agricultura, podendo chegar até o limite de 21%.
Segundo informa a ONU nesses 3% está concentrado um pouco mais da metade da população total. A previsão é que 2/3 da população mundial, futuramente, venha a ocupar esse espaço. Os números são altos e indicam problemas complexos.
De um lado há quem considere essa concentração demográfica vantajosa para o planeta e para nós mesmos. Para o planeta por conta de não disputarmos as áreas agriculturáveis. Para nós mesmos pela facilitação na criação e interconecção das diversas redes necessárias para a existência da vida em sociedade. Espaço menores, investimentos menores. De todos, principalmente contribuintes. Estruturas com cobertura mais eficiente.
De outro a quem veja nesses aglomerados urbanos a antevisão do caos. A classe média vai resolvendo ao se afastar do núcleo desses centros para as periferias, invertendo a tendência dos anos 800. Os centros vão se degradando.
A gestão pública passa boa parte de seu tempo correndo atrás da expansão urbana decorrente da pressão da ação de indivíduos e empresas.

Enfim, esta é uma questão: As cidades são realmente planificáveis, organizáveis, alteráveis, manipuláveis, ao ponto de podermos imaginar que venham a ser os locais de nossa utopia? Existe alguma forma de consorciar interesses às vezes tão díspares da gestão, dos indivíduos no mundo real e das empresas?

Observando todas aquelas pessoas debatendo em alguns momentos me pareceu que muito imaginam uma utopia auto-realizável que dependeria apenas da vontade das pessoas enquanto seres individuais.
Me impressionou e muito o descolamento entre a percepção de uma ação necessária e a ação política. Me impressionou ausência dos partidos políticos nesse debate.
A mim ficou a impressão que a cidade como utopia vai permanecer nesse formato enquanto permanecer a utopia de que tudo irá se produzir sem a ação política de intervenção concreta no mundo real.

Demetrio Carneiro