segunda-feira, 8 de março de 2010

CURRÍCULO ESCOLAR, MANIPULAÇÃO, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

O Simon Schwartzman, Simon’s Site, publicou hoje em seu blog um post criticando a qualidade do currículo de sociologia para o ensino médio no Rio de Janeiro. Veja abaixo.

Numa primeira avaliação pode parecer que não seja um problema tão complexo, mas se pensarmos no papel da educação no processo de desenvolvimento talvez olhemos para uma outra dimensão e ai uma manipulação, esse é o único nome possível, curricular ganha seu peso real.

O ensino básico, pré escolar/fundamental/médio convencional/médio técnico, é o somatório de conhecimentos e habilidades sobre as quais repousa toda a possibilidade da educação fazer a diferença num mundo onde o conhecimento passa a ser o núcleo dinâmico dos processos de crescimento e dá forma a uma nova estratégia de desenvolvimento.

Com efeito não adianta implantar a estrutura, tipo ensino integral, se não houver uma clara noção de que é o conteúdo curricular, embora não seja apenas ele, que formará ou não indivíduos capazes de ir ao mercado, obter resultados e produzir o que se chama crescimento econômico e social, melhor qualidade de vida, elementos que vão desaguar no desenvolvimento . O ensino de horário integral, desprovido do conteúdo curricular virá apenas mais uma forma de assistencialismo. Mais uma vez ou existe um todo coerente chamado educação ou não temos nada.

A partição federativa, colocando nas mãos de prefeituras o ensino pré-escolar e fundamental, numa federação onde o ente municipal é frágil e desarticulado em noventa por cento dos municípios não ajuda em nada. 
Da mesma forma o ensino médio nas mãos dos estados. A formalidade constitucional, a suposta autonomização e regionalização do ensino, transformam-se no mundo real em irresponsabilidade e falta de compromisso. 
Não tanto da parte dos trabalhadores do ensino, embora eles também devam assumir essa culpa, mas por parte de toda a sociedade que olha para tudo isso como uma questão de “especialidade” e não se pergunta o mais simples: É isso mesmo o que queremos para os nossos jovens?

Houve uma época onde a função do ensino incomodava a todos. Foi um momento de brilhantes educadores como Anísio Teixeira ou Darcy Ribeiro. Os próprios estudantes e suas entidades representativas se movimentavam e questionavam. Parece que esse momento passou. 
Hoje o máximo que esse debate alcança é a “democratização” do acesso ao ensino superior num país onde as universidades particulares oferecem a esmagadora maioria das vagas. 
Parecem não se dar conta de que a qualidade do conhecimento de quem acessa o sistema também é parte da equação. Mas tudo bem, desde que “negros, índios, pobres etc...” acessem o sistema a democracia está salva. Se por falta de formação básica na outra ponta sair um sub-acadêmico, incapaz de chegar ao mercado de trabalho, tudo bem, não é problema de ninguém.

Nesse quadro a ideologização do ensino, como o que se faz nessa manipulação curricular no mais puro estilo bolivariano não ajuda nada.
Demetrio Carneiro

O currículo de sociologia para o ensino médio no Rio de Janeiro

Acabo de ver a lamentavel proposta curricular para o programa de sociologia para o nível médio do Rio de Janeiro. É um conjunto desastroso de idéias gerais, palavras de ordem e ideologias mal disfarçadas que confirmam as piores apreensões dos que, como eu, sempre temeram esta inclusão obrigatória da sociologia no curriculo escolar.

É difícil saber por onde começar a crítica. Faltam coisas essenciais como familia e parentesco, educação, socialização, estratificação social, mobilidade, criminalidade, religião, burocracias, modernidade, opinião pública, instituições. Na parte de “sociedade democrática”, nao há nada sobre instituições políticas, sistemas políticos comparados, participação politica, sistemas eleitorais, partidos políticos, populismo, fascismo. Nao há nada mais conceitual sobre teoria sociológica, suas correntes, etc. Nao há sequer algo sobre direitos civis, sociais e humanos.