Num post que acabei de publicar, Os economistas e a crise, Phillip Lane comenta que o problema dos cenários pessimistas não está tanto em que os responsáveis pelas políticas públicas acreditem completamente neles, mas que pelo menos hajam prudencialmente de formas a pelo menos retardar os efeitos previstos. Conforme está lá “Na verdade, o ideal é que os policy makers sejam suficientemente prudentes para o risco do cenário de desastre recuar e aqueles que oferecem as advertências tipo Cassandra nunca vejam os seus piores receios realizados”.
É bom registrar que numa democracia a produção de políticas públicas que está nas mãos da “situação” eventualmente poderá estar nas mãos da “oposição” após uma rodada eleitoral. Ambos, situação e oposição têm suas análises de longo prazo desenvolvidas por economistas.
Mas esta é uma situação, a previsão dos problemas, que pode ocorrer em outros campos do conhecimento. Não é um problema apenas nosso, dos economistas.
Outra recente matéria, dessa vez de O Globo, citada pelo Blog do Noblat, sob o título A “caixa d’água” do Brasil sob ameaça relata que um estudo ainda inédito do Ibama e do Ministério do Meio Ambiente aponta o desmatamento de 48,5% da área do Cerrado brasileiro. Algo como a superfície equivalente a 22 Estados do Rio de Janeiro ou todo o estado de Mato Grosso. O que evidentemente é uma ruptura de equilíbrio ambiental e terá sérias consequências sobre o aqüífero que se encontra no subsolo da região e fundamental para o abastecimento de água de parte significativa do país.
É historicamente sabido que a ocupação econômica do Centro Oeste deu-se basicamente a partir da década de 70 e que o interesse principal era estimular a plantação de soja para a exportação. A esteira dessa ocupação veio a criação de gado para corte, com intenções de buscar uma custo menos, criando o gado em campo aberto e atender ao mercado interno. A soja vinha na frente derrubando a savana e esgotando a terra. Logo a seguir vinha a criação de gado.
A dupla soja&gado trouxe crescimento econômico para a região e foi responsável por parte importante de um modelo de desenvolvimento que deve as commodities agrícolas boa parte de seus resultados. Hoje, do ponto de vista do que se exporta, se estabelecida uma relação entre produtos primários e manufaturados, ela se dá a favor dos primários.
Não é da escola desenvolvimentista que tem dominado o cenário brasileiro nas últimas décadas preocupar-se com as questões ambientais. Quer dizer, não era. A proximidade de 2010 nos transformará a todos em ferrenhos defensores da questão ambiental, que deverá ser o tema politicamente correto, junto que a questão da defesa dos pobres.
Nosso desenvolvimentismo sempre olhou para as indústrias, para o volume de emprego e renda que essas indústrias poderiam gerar. Quando olhou do para o interior, olhou para a capacidade de aproveitamento dessas imensas áreas para gerar um produto que pudesse manter o ritmo de exportação e assim contrabalançar as importações, numa parte significativa, de tecnologia. Cumpríamos assim nosso destino, este sim manifesto, no mundo: exportar nosso meio ambiente transformado em matéria prima básica, importar saber transformado em máquinas e equipamentos.
O custo ambiental desse modelo de desenvolvimento ainda não foi mensurado corretamente.
A economia do meio ambiente parte de premissas fundadas na questão das falhas de mercado e das externalidades negativas. Trata-se de entender que aquelas empresas que utilizem recursos não renováveis ou atuem de forma a destruir o meio ambiente devem assumir o ônus em forma de custo. A questão é: Qual interesse teriam os economistas desse tipo de desenvolvimentismo em medir o custo que os plantadores de soja deveriam assumir por estar destruindo o cerrado? Como mensurar o valor da destruição de um bem único?
Uma coisa é certa. Esse modelo de desenvolvimento tem um custo não mensurado, mas evidentemente crescente e se não for questionado pode chegar uma hora que não se tratará mais de cobrá-lo dos responsáveis pela devastação ambiental. Mas de simplesmente de tentar sobreviver.
Demetrio Carneiro