terça-feira, 8 de setembro de 2009

A economia mundial se recupera...a culpa é de quem?

Apesar de ainda existir muitas preocupações com sua eventual sustentabilidade, é inegável que estamos vendo uma recuperação da atividade no nível global. Dados de vários paises, até os mais pesadamente afetados pela crise como os EUA e o Reino Unido, mostram sinais de recuperação, e em alguns casos uma forte recuperação.


Por que isso esta acontecendo? Ou mais exatamente, o que aprendemos sobre a eficácia de varias políticas para enfrentar a crise?


Houve, durante os meses mais agudos da crise, certo consenso sobre a relativa ineficácia das políticas monetária naquele momento e a necessidade de empreender políticas fiscais agressivas. Tal posição, que pode ser visto como uma volta a um pensamento keynesiano mais clássico, foi fortemente defendida por economistas como Paul Krugman (seu longo artigo sobre macroeconomia publicado nesse domingo no New York Times repete essa tese). No Brasil, a crise possibilitou a uma postura mais agressiva dos keynesianos locais, que ora anunciarão a tal “morte do neoliberalismo” na política econômica como a “morte da ortodoxia” no pensamento econômico, como outros sentimentos apocalípticos tipicos dessa escola.


Apesar de não ser difícil achar coisas que eu escrevi na época advogando a necessidade de uma resposta fiscal agressiva, acho que esta na hora de rever essas apressadas conclusões. Especificamente, fora do caso muito especial da economia chinesa, não parece que a política fiscal (entendido como aumento de gastos discricionários) teve algum grande papel na atual recuperação, nem aqui nos EUA nem na Europa, e o que realmente pode explicar a atual recuperação é a boa e velha política monetária.


No caso americano isso esta ficando claro pelo simples fato que grande parte dos gastos do programa vão ocorrer em 2010. Isto é, o conhecido fato que a política fiscal é muito lenta de ser executada mais uma vez foi demonstrado na pratica.


No caso Europeu a prova é que simplesmente não houve grande pacote fiscal algum. Enquanto nos EUA o tamanho do pacote do Obama são de 5% do PIB, na Europa foi somente 1% do PIB. Apesar disso estamos vendo tão forte, ou até mais forte, recuperação na Europa do que nos EUA (vale lembrar que vários economistas keynesianos aqui nos EUA, como Krugman, Robert Shiller etc. publicamente criticaram a Europa, e especialmente a Alemanha, pela falta de grandes novos gastos)


Então se não foi a política fiscal, o que foi? Esta ficando cada vez mais claro que o que realmente “salvou o mundo” não foi um keynesianismo recauchutado mais sim as medidas monetárias quantitativas executadas pelos bancos centrais, tanto nos EUA como na Europa. O apoio direto dos BCs aos mercados de credito foi importante parar manter os mercados ordenados e com alguma liquidez, o que diminui as perdas das instituições financeiras e possibilitou as mais bem capitalizadas a voltar a emprestar (com grandes lucros diga-se de passagem). Isso, mais o fim do ciclo de liquidação de estoques na econômica real, agora permite a forte recuperação que estamos vendo ao redor do mundo.


Fica a lição: até que a política fiscal discricionária ganhe agilidade, a ferramenta eficaz permanece a política monetária, no seu sentido mais amplo.


Tony Volpon