terça-feira, 1 de setembro de 2009

Entrevista hoje com Agencia Estado

JUROS

O dado acima das expectativas da produção industrial permitiu uma disparada nas taxas dos

contratos futuros de juros com vencimento em 2011 e 2012 no início da manhã. Mas os contratos

bateram níveis chaves e, com o clima pesado no exterior, a realização de lucros reprimiu a

manutenção do ímpeto inicial. No começo da tarde, as taxas desses contratos se mantinham firmes,

mas sem se distanciarem muito dos níveis de sexta-feira, enquanto os contratos mais curtos

mostravam a solidificação da expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) manterá a

Selic em 8,75% ao ano nesta semana.

 

A produção industrial brasileira cresceu 2,2% em julho, na comparação a junho, acima do teto das

estimativas traçadas por analistas ao AE Projeções, que variavam de +0,3% a 2%. Na comparação

com julho do ano passado, a produção caiu 9,9%, em linha com as estimativas do AE Projeções, que

indicavam uma variação de -12,00% a -8,80%, com mediana em -10,60%. No ano, a produção

acumula queda de 12,8% em relação ao mesmo período do ano passado e em 12 meses, recuo de

8%, o que assegura que não há espaço para precipitações no front da política monetária. A produção

de bens de capital, indicador de investimentos, subiu 1,4% em julho ante junho, mas ainda tem queda

de 23,1% em relação ao mesmo período do ano passado e retração de 10,1% nos 12 meses até

julho.

 

"Foi uma taxa bastante forte, que se soma ao dado do emprego", comentou o estrategista de juros

para a América Latina do banco Standard Chartered, Tony Volpon, de seu escritório em Nova York.

"E não vejo porque o Banco Central daria gasolina ao fogo", ponderou Volpon, que endossa a

expectativa de manutenção da Selic amanhã ao não ver necessidade de uma nova flexibilização

monetária.

 

A solidificação da aposta de manutenção era visível no contrato de juro futuro para vencimento em

2010, cujo juro projetado era de 8,62%, às 13h55, mesmo nível do ajuste. O contrato para outubro

projetava taxa de 8,60%, abaixo do 8,61% no ajuste, mostrando que não houve fundamento que

justificasse alteração de posicionamento para a expectativa de manutenção da Selic nesta semana.

Nos contratos mais longos, o efeito da produção acima das expectativas foi mais sensível. O contrato

para 2011 projetava taxa de 9,72%, às 13h36, ainda em alta ante o nível de 9,69% no ajuste e 9,70%

no fechamento de sexta-feira, embora se descolasse dos picos da manhã. Após abrir projetando taxa

de 9,81% e bater a máxima de 9,83% ao longo da manhã, as taxas desaceleraram a alta nesse

contrato, com fontes atribuindo a redução da velocidade ascendente à queda da Bovespa e do

petróleo. O contrato para 2012 indicava taxa de 11,06%, abaixo da máxima intraday de 11,13%. Na

sexta-feira, o ajuste do contrato foi com uma taxa de 11,03% e o fechamento a 11,08%. Às 14h10, o

Ibovespa cedia 2,59%, fortemente pressionado pelas ações da Petrobras. O petróleo WTI para

outubro desabava 4,17%, a US$ 69,70 por barril, na Nymex eletrônica.

 

Quanto ao horizonte futuro da política monetária doméstica, Volpon acredita que só a partir do

segundo semestre do próximo ano o Copom começará a elevar a taxa básica de juros. "Por ora, a

dinâmica da inflação não oferece uma 'smoking gun' (de pressão)", disse Volpon. O termo 'smoking

gun' remete a algo como "prova irrefutável". "O BC não vai antecipar a alta do juros. Deve optar pelo

segundo semestre do próximo ano, quando deve ocorrer o fechamento do hiato do produto e a

exaustão do que estamos vendo de impacto na inflação vindo do câmbio", disse Volpon.

 

Para o estrategista do Standard Chartered, mesmo a proximidade da eleição no segundo semestre

de 2010 não impediria o BC de buscar taxas mais elevadas de juros, caso a economia se recupere.

"Ninguém vai se matar em Brasília se o BC subir os juros diante da melhora da economia", disse ele.

E sobre a eventual saída do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, do cargo, Volpon não

vê apreensões. "(O BC) tem um ritmo e uma densidade institucional que torna a política monetária

independente das pessoas", disse. No entanto, o estrategista é um defensor da saída de Meirelles no

momento em que ele se declarar candidato. "Não gostaria de vê-lo candidato e no BC ao mesmo

tempo. O BC tem que ter um tecnocrata que busque o sistema de metas."