JUROS
O dado acima das expectativas da produção industrial permitiu uma disparada nas taxas dos
contratos futuros de juros com vencimento em 2011 e 2012 no início da manhã. Mas os contratos
bateram níveis chaves e, com o clima pesado no exterior, a realização de lucros reprimiu a
manutenção do ímpeto inicial. No começo da tarde, as taxas desses contratos se mantinham firmes,
mas sem se distanciarem muito dos níveis de sexta-feira, enquanto os contratos mais curtos
mostravam a solidificação da expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) manterá a
Selic em 8,75% ao ano nesta semana.
A produção industrial brasileira cresceu 2,2% em julho, na comparação a junho, acima do teto das
estimativas traçadas por analistas ao AE Projeções, que variavam de +0,3% a 2%. Na comparação
com julho do ano passado, a produção caiu 9,9%, em linha com as estimativas do AE Projeções, que
indicavam uma variação de -12,00% a -8,80%, com mediana em -10,60%. No ano, a produção
acumula queda de 12,8% em relação ao mesmo período do ano passado e em 12 meses, recuo de
8%, o que assegura que não há espaço para precipitações no front da política monetária. A produção
de bens de capital, indicador de investimentos, subiu 1,4% em julho ante junho, mas ainda tem queda
de 23,1% em relação ao mesmo período do ano passado e retração de 10,1% nos 12 meses até
julho.
"Foi uma taxa bastante forte, que se soma ao dado do emprego", comentou o estrategista de juros
para a América Latina do banco Standard Chartered, Tony Volpon, de seu escritório em Nova York.
"E não vejo porque o Banco Central daria gasolina ao fogo", ponderou Volpon, que endossa a
expectativa de manutenção da Selic amanhã ao não ver necessidade de uma nova flexibilização
monetária.
A solidificação da aposta de manutenção era visível no contrato de juro futuro para vencimento em
2010, cujo juro projetado era de 8,62%, às 13h55, mesmo nível do ajuste. O contrato para outubro
projetava taxa de 8,60%, abaixo do 8,61% no ajuste, mostrando que não houve fundamento que
justificasse alteração de posicionamento para a expectativa de manutenção da Selic nesta semana.
Nos contratos mais longos, o efeito da produção acima das expectativas foi mais sensível. O contrato
para 2011 projetava taxa de 9,72%, às 13h36, ainda em alta ante o nível de 9,69% no ajuste e 9,70%
no fechamento de sexta-feira, embora se descolasse dos picos da manhã. Após abrir projetando taxa
de 9,81% e bater a máxima de 9,83% ao longo da manhã, as taxas desaceleraram a alta nesse
contrato, com fontes atribuindo a redução da velocidade ascendente à queda da Bovespa e do
petróleo. O contrato para 2012 indicava taxa de 11,06%, abaixo da máxima intraday de 11,13%. Na
sexta-feira, o ajuste do contrato foi com uma taxa de 11,03% e o fechamento a 11,08%. Às 14h10, o
Ibovespa cedia 2,59%, fortemente pressionado pelas ações da Petrobras. O petróleo WTI para
outubro desabava 4,17%, a US$ 69,70 por barril, na Nymex eletrônica.
Quanto ao horizonte futuro da política monetária doméstica, Volpon acredita que só a partir do
segundo semestre do próximo ano o Copom começará a elevar a taxa básica de juros. "Por ora, a
dinâmica da inflação não oferece uma 'smoking gun' (de pressão)", disse Volpon. O termo 'smoking
gun' remete a algo como "prova irrefutável". "O BC não vai antecipar a alta do juros. Deve optar pelo
segundo semestre do próximo ano, quando deve ocorrer o fechamento do hiato do produto e a
exaustão do que estamos vendo de impacto na inflação vindo do câmbio", disse Volpon.
Para o estrategista do Standard Chartered, mesmo a proximidade da eleição no segundo semestre
de 2010 não impediria o BC de buscar taxas mais elevadas de juros, caso a economia se recupere.
"Ninguém vai se matar em Brasília se o BC subir os juros diante da melhora da economia", disse ele.
E sobre a eventual saída do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, do cargo, Volpon não
vê apreensões. "(O BC) tem um ritmo e uma densidade institucional que torna a política monetária
independente das pessoas", disse. No entanto, o estrategista é um defensor da saída de Meirelles no
momento em que ele se declarar candidato. "Não gostaria de vê-lo candidato e no BC ao mesmo
tempo. O BC tem que ter um tecnocrata que busque o sistema de metas."