por Anivaldo Miranda
A Ministra Dilma Roussef, da Casa Civil do Governo Lula, deu a ordem unida para a delegação brasileira que deverá assistir à grande reunião que os países da comunidade internacional farão em dezembro, na capital da Dinamarca, Copenhague, para tratar dos esforços mundiais voltados para enfrentar os desafios do aumento da temperatura no planeta Terra: com seu habitual tom de caserna, a ministra anunciou que o Brasil não aceitará metas para redução das emissões de gases do efeito estufa no território brasileiro.
Segundo a ministra, países em desenvolvimento só devem aceitar compromissos voluntários no que diz respeito às reduções dos percentuais de emissão de dióxido de carbono, metano e outras substâncias poluentes que estão alterando o equilíbrio da atmosfera, potencializando a retenção de calor, na superfície do planeta, e com isso alterando o funcionamento do clima terrestre com crescentes e preocupantes efeitos sobre a vida das comunidades no mundo inteiro.
A fala da ministra sepulta praticamente os esforços do Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que gostaria de convencer o governo federal a levar para Copenhague uma posição mais propositiva do Brasil como contribuição para forçar o conjunto dos países, e principalmente os mais desenvolvidos, a aumentarem e acelerarem as medidas concretas para evitar o agravamento de catástrofes que já estão acontecendo na forma de furacões, enchentes, erupções vulcânicas, derretimento de geleiras, erosão marinha, secas, desertificação e outros fenômenos que poderão afetar gravemente o processo produtivo e a qualidade de vida em todo o mundo.
Não há dúvida que essa decisão do governo brasileiro de não aceitar metas só servirá para aprofundar ainda mais a sensação mundial de que a reunião de Copenhague tem tudo para terminar num grande fiasco em matéria de avanços concretos para diminuir o ritmo do aquecimento global. Em certo sentido é tudo que as grandes potenciais industriais querem para fortalecer as desculpas que redundam na inércia conservadora em relação às mudanças dramáticas do clima.
Diante de tais fatos, é de ser perguntar: a quem realmente interessa que o Brasil não fixe metas para diminuir suas emissões de gases do efeito estufa? Seguramente não é do interesse da maioria trabalhadora do país, muito embora a verborréia dos que resistem às metas procure sempre se apoiar na visão caolha que procura convencer a opinião pública com a falsa postulação segundo a qual aceitar metas pode comprometer o crescimento econômico e afetar a geração de empregos.
Em verdade, quem defende a não fixação de metas são os grandes poluidores, principalmente aqueles que estão queimando de forma criminosa a Floresta Amazônica, o Cerrado e o que resta da Caatinga e da Mata Atlântica, com práticas produtivas absolutamente predatórias e tecnologicamente atrasadas, além dos que resistem à modernização industrial e aqueles que, ligados aos interesses multinacionais da indústria dos veículos automotores, não querem mudar de forma alguma a esquizofrênica matriz de transportes brasileira, dominada por automóveis e caminhões caros e poluentes, a um custo astronômico para todos os brasileiros e brasileiras.
O Brasil das maiorias assalariadas e dos pequenos e médios produtores, ao contrário do que o governo federal e o poder econômico apregoam, só terá a ganhar se estabelecer metas justas para diminuição das suas emissões, porque ganhará moral e prestígio internacional para ser a potência verde do planeta – o que é sua vocação natural – além de estabelecer um conjunto de ações que forçarão o desenvolvimento tecnológico de sua vasta área produtiva e o aumento da sustentabilidade do seu crescimento econômico.