Desta vez o governo está certo, alterar o Fator Previdenciário pode ser um problema sério de finanças públicas. O FP, quando criado, foi uma tentativa de buscar algum equilíbrio nas contas de previdência. Na lateral havia a promessa de que muito em breve se discutiria uma Reforma Previdenciária que colocaria as coisas nos seus lugares. Claro, nunca aconteceu. Talvez o governo seja contrapelas razões erradas e, provavelmente, não terá muita moral para criticar nossos gastadores, gastador-mor que é.
Outro dia escutei de um deputado federal, falando em público, com registro em vídeo e tudo o mais, algo mais ou menos assim:
“Se o governo gasta tudo o que gasta em muitas coisas erradas, podemos, então, gastar em coisas certas( o deputado falava da correção das pensões e benefícios pelo salário-mínimo)”.
No fim do dia esta será a lógica que movimentará as comissões técnicas da Câmara Federal e, provavelmente, moverá o voto em plenário. Quando e se o assunto for ao voto.
Jogando para a platéia nos parlamentares estão preocupadíssimos em resolver o problema da massa de aposentados e pensionistas, mas não o problema de quem vai pagar a conta: o resto do país.
Gastar mais fazendo Justiça Social, ótimo. Mas seria bem melhor para a nação que gastassem seu caríssimo tempo procurando fórmulas que sustentassem o gasto que estão propondo. Evidentemente devem imaginar que o problema não é deles.
Quem sabe uma verdadeira Reforma Previdenciária não resolveria o problema?
Quem sabe criar mecanismos onde os recursos investidos pelos trabalhadores na previdência não servisse para cobrir os buracos criados pela incompetência de gestão, mas sim fossem investidos e assim garantissem ao futuro aposentado e seus dependentes uma retirada da vida ativa digna?
A grande questão é que tentar alterar a Previdência é mexer numa casa de marimbondos que acabam comandados e envolvidos pelos beneficiários de todo o tipo de trambique legal feito nas últimas décadas. O massacre feito contra aposentados e pensionistas que não tenham capacidade de lobby para garantir seus direitos os transforma é uma fácil massa de manobra que se movimenta com muita eficiência a qualquer momento que se fale em mudar o atual status.
A nossa questão é que este debate é difícil, demorado, complexo e longo. Coloca em choque diferentes interesses corporativos. Simplesmente não dá, tira votos. Nossos valentes parlamentares sempre irão preferir algo que lhes dê mais retorno. Então é mais simples mandar pagar e remeter a conta para o outro, isto é nós.
Já dá para imaginar o discurso de alguns palanques em 2010:
“Eu desafiei o poder por nossos aposentados e aposentadas. Vote em mim!”
Demetrio Carneiro