Cláudio Vitorino é um tipo de historiador não muito comum. O conhecimento histórico se faz por meio de acúmulos, mas como conhecimento ativo e marco para o futuro só se realiza como crítica. Vitorino é desta estirpe.
Seu texto é provocativo, mas inquestionável.
Dá margem a uma reflexão sobre o “politicamente correto” e o receio de questionamento de dogmas que vão se estabelecendo na cultura de esquerda como aparentes consensos universais.
Temos outros exemplos. O mito do Tchê fica na mesma linha. De aventureiro foi promovido a herói. Muitos esquecem que foi este herói que levou a uma morte inútil e desesperançada dezenas de jovens latinos americanos que seguiram suas propostas irresponsáveis. Mas é bem. É legal estampar sua foto no peito.
Outra reflexão é quanto às políticas sociais.
Se temos abaixo da linha de pobreza, por exemplo, negros, brancos e um imenso número de mulatos, convergir políticas apenas para os negros contribui em que para a paridade ou para a quebra de assimetria de oportunidades?
Uma coisa é carta: Em nosso país a democracia só se consolidará enquanto respeito diversidade.
Demetrio Carneiro
20.11: Dia da consciência negra?
Desde a década de 1960, o 20 de novembro é comemorado como o Dia da Consciência Negra, forma encontrada pelo “movimento negro” para se contrapor à efeméride tradicional do 13 de maio, data da Abolição da Escravatura.
Nas últimas duas décadas, o 20 de novembro tem se constituído em “marco” de uma nova atitude de segmentos, basicamente de classe média, que tem encontrado em Zumbi dos Palmares, seu avatar, sua bandeira, sua distinção.
Do ponto de vista histórico, Zumbi, depois de participar do assassinato de Ganga Zumba, líder inconteste dos quilombos do NE, que tinha negociado uma “pax” com os colonizadores portugueses, e assumido seu posto, através de um golpe, foi travestido com roupas do revisionismo oportunista e tornou-se uma lenda.
Ao “radicalizar” o enfrentamento com o “colonizador branco”, sem as necessárias condições objetivas, sem nenhum “projeto” que o voluntarismo suicida, sob o comando de Zumbi, os quilombos forma derrotados e dizimados, em menos de vinte anos.
O curioso de todo esse processo é que enquanto Ganga Zumba, o responsável pela consolidação e ampliação desses espaços de liberdade do negro no Brasil colonial, era paulatinamente colocado nas sombras do esquecimento, na década de 60, do século passado, uma certa historiografia, comprometida com a radicalização social, em curso, encontrou em Zumbi dos Palmares seu personagem mítico, na busca de consolidar uma outra visão da História, e um outro discurso, acentado no “exemplo de luta” de seu herói.
Desde quando éramos PCB nunca nos deixamos seduzir pelo canto de sereia da lógica da “racialização da política”, como assistimos, nos dias de hoje, como política de Estado. Nossa questão sempre foi, e continua sendo, a conquista da consciência de classe de todos os trabalhadores, como elemento fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e humana. Não a partir da cor de seus integrantes, mas de sua posição social.
A questão fundamental de nossa sociedade é a terrível desigualdade que preside nossa formação social. O enfrentamento dessa questão interessa a todos os brasileiros, independente da cor de sua pele. Pois o que verdadeiramente importa, em última instância, são os valores humanos de liberdade e igualdade, na construção de uma sociedade democrática, laica e fraterna.
Com inquietação vemos crescer em nosso país a insidiosa lógica da “raça” como elemento distintivo do Ser, e elemento fundamental de “identidade”, por cima de todos os fatores que nos distingue como povo e nação, o amplo e disseminado processo de miscigenação.
Chamamos a atenção de todos que formam nosso país, nesse 20 de novembro, para lembrar a todos que nosso maior desafio é vencer a pobreza, ampliar o processo democrático e garantir um Estado transparente e verdadeiramente Republicano.
E isso é uma tarefa de todos, visto que consciência não tem cor.
Cláudio Vitorino de Aguiar