sexta-feira, 1 de outubro de 2010

TONY VOLPON NO FT: DILMA PODE MUDAR A TENDÊNCIA DA TAXA DE JUROS

Ontem o Tony publicou um post no Blog “Beyond BRICS”,  Financial Times: “Dilma can break Brazil’s interest rate curse”.
Abaixo uma tradução livre que fiz.

Lembro que Dilma esteve em Nova Yorque, este início de ano, levada pelas mãos de Palocci, dialogando com representantes dos maiores grupos de investimento do mercado internacional.

Demetrio Carneiro

DILMA PODE MUDAR A TENDÊNCIA DA TAXA DE JUROS

Por Tony Volpon

O recente sucesso econômico do Brasil deve muito ao pragmatismo de Lula e seu antecessor como presidente, Fernando Henrique Cardoso. As políticas de ambos - consolidando a moeda, abrindo mercados – criaram os fundamentos para o Brasil aproveitar a crescente demanda de commodities pela China, hoje maior parceira comercial brasileira.

No domingo, os brasileiros irão eleger um novo presidente, e uma provável vencedora, Dilma Rousseff. É previsível que não ocorram grandes alterações no modelo econômico do país. No entanto, se ela assim escolher, poderá quebrar a maior anomalia da economia do Brasil: A moeda muito forte e as radicais taxas de juros do mercado.

Há ainda um acalorado debate sobre a razão pela qual as taxas de juros do Brasil continuam a ser tão altas. Alguns atribuem a situação ao imperfeições da moeda brasileira e ao mercado de crédito local, mas essas falhas podem ser facilmente superados pela atual ampla oferta de capital exterior.
De fato a política fiscal excessivamente frouxa do Brasil gera excesso de demanda agregada, o que por sua vez provoca um aumento do déficit da conta corrente e altas taxas de juros. Os fluxos de entrada de capital externo, necessários para financiar o crescimento estimulado pela demanda, aumentam o déficit em conta corrente gerando moeda local forte, penalizando a competitividade das exportações nos setores que não estão ligados às commodities.

Como a nova adminstração poderia lidar com isto? Adotando um plano para diminuir o nível de despesa em percentuais do PIB de forma transparente e progressiva, sem o uso de "engenharia financeira" criativa. Fazendo que o Brasil possa ter condições para que as taxas de mercado caiam no próximo ano.

Aumentar a poupança fiscal e taxas de juros mais baixas levarão a que o nível do real caia, aumentando a competitividade das exportações. Menores taxas de juros também oferecerão melhor incentivo para a "multidão" de investimentos privados, permitindo a economia quebrar a perigosa dependência de financiamento pelo BNDES, o banco de desenvolvimento. Desta forma, o Brasil seria capaz de realizar suas várias necessidades de investimentos em infra-estrutura de uma forma sustentável e eficiente.

Claro que, para Dilma Rousseff adotar tais políticas, ela teria que ter coragem de mostrar um retorno á própria decisão de Lula que, tomando posse em 2003, abandonou o radicalismo económico que defendia.

Dilma é vista como uma estadista. Ela supervisionou pessoalmente o "PAC" - programa de investimentos do governo, durante o segundo mandato de Lula. Estes investimentos se aceleram muito durante a crise financeira de 2008, juntamente com um conjunto de iniciativas de gastos e impostos que levaram o déficit orçamentário de uma queda de 1,3 por cento do PIB no final de 2008 para os atuais 3,4 por cento do PIB. O governo também aumentou os empréstimos do BNDES, cuja carteira de crédito cresceu 30 por cento em apenas um ano, tornando-se um grande credor tipo Banco Mundial.

Estas políticas contracíclicas foram a escolha certa para o Brasil em 2008: amorteceram o tamanho da recessão e estimularam uma rápida recuperação.
No entanto os tempos mudaram, e os desafios para o Brasil agora são de natureza diferente.
Adotando, de forma surpreendente e ousada, um novo modelo fiscal, Dilma Rousseff, se eleita, iria levar o Brasil, finalmente, a mudar a tendência das altas taxas de juros reais e colocaria o país no caminho do crescimento sustentável por muitos anos.


http://blogs.ft.com/beyond-brics/2010/09/30/guest-post-can-dilma-break-the-curse-of-brazils-high-interest-rates/