O Padovani é alguém que se deva escutar.
O texto abaixo, postado no blog que ele assina na Exame, O negócio é o seguinte/Política Fiscal, bate com textos que postamos recentemente: meus próprios, de Tony, de Miriam Leitão e muito outros que circulam pela web ou na imprensa que tanto incomoda Lula.
Todos tratam da irresponsabilidade fiscal e demonstram a mesma dúvida sobre a continuidade do regime de estabilidade econômica por conta das necessidades políticas do atual grupo de poder.
Demetrio Carneiro
por Roberto Padovani
Sempre houve entre os economistas um debate sobre qual o melhor indicador fiscal do ponto de vista econômico, o resultado primário ou as despesas do governo central. A idéia é captar os impactos do governo sobre o crescimento e, a partir daí, sobre inflação, juros e câmbio.
Este debate foi resolvido ontem. A operação entre Tesouro, BNDES e Petrobras permitiu ao governo ampliar o resultado primário. Mas este resultado não foi conseguido com aumento da arrecadação ou corte de gastos. O aumento do primário, neste caso, não gerou um impacto contracionista sobre a atividade, como seria de esperar. Pelo contrário, a melhoria do resultado implicou expansão da atividade, na medida em que gerou expansão do crédito por parte do BNDES. A operação, portanto, faz sentido do ponto de vista contábil, mas não do econômico. Ainda que se possa argumentar que o primário reflita a venda de um ativo do governo – as reservas de petróleo – a forma como ocorreu a operação reduz a transparência da gestão fiscal e, principalmente, dificulta a análise dos riscos econômicos. Melhor será, a partir de agora, avaliar o comportamento das despesas. Perdemos um termômetro.