domingo, 10 de outubro de 2010

O GOGÓ DO MANTEGA COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA CAMBIAL

A mídia nacional, insistentemente acusada de ser contra o governo, vem dando grande destaque às falas de Mantega sobre a questão cambial.

Com efeito, é um beco sem saída: São anos de desestímulo à poupança familiar por conta do “gaste... gaste”, desinteresse da poupança pública, por conta do gasto como instrumento de poder, sistema bancário oligopolizado, com spreads absurdos, conflitos evidentes entre política fiscal e política monetária jogando a taxa básica sempre para o alto.

Toda essa lista acaba gerando a necessidade de financiamento externo de nosso crescimento. Esta talvez seja a nossa vulnerabilidade mais forte, atualmente.

O “deitar e rolar” dos anos dourados de crescimento por conta do consumo desenfreado de americanos, asiáticos e europeus teve suas consequências. A falta de preocupação com o futuro acabou gerando a vulnerabilidade.

Já há tempos os especialistas da área vinham comentando que o governo pretendia segurar a apreciação do real “no gogó”. Aplicar uma taxação sobre os investimento especulativos em renda - fixa foi evidentemente apenas uma “prestação de contas” para não se dizer que não se fez nada, frente às reclamações generalizadas, principalmente dos grupos keynesianos do nacional-desenvolvimentismo e suas teses sobre deinsdustrilização, a “doença holandesa”.

Medida capenga e claramente ineficaz taxar a renda - fixa. Medida não indicada taxar os investimentos em bolsa numa hora em que as ações da Petrobras estavam na linha de interesse. Medida impossível taxar o investimento direto. Sobrou usar mais uma vez o gogó. Só que dessa vez no exterior.
Parecia ser o local correto, já que americanos também andam aflitos com a questão cambial. O único problema é que seria preciso combinar com os chineses.
Enquanto Mantega falava em “guerra cambial” os chineses avisavam ao público em geral que estavam bem satisfeitos com sua política cambial. Difícil imaginar que o discurso brasileiro ou mesmo o americano fosse impressionar a China. Embora o volume de citações na mídia nacional deixasse a impressão do contrário.

Muito bem. De volta ao mundo real tudo que há a fazer são medidas de correção como a recente “punição” para investidores estrangeiros que migrem da renda-fixa para a bolsa.

Todo o problema e desespero de Mantega, também do governo, é que não há nada a fazer a não ser profundas transformações estruturais que criem as bases de investimento interno, público e privado e não dá para fazer isso até o dia da votação do segundo turno.
De forma que a solução será continuar a tentativa de mostrar trabalho, sem trabalhar.

Abaixo um texto bem interesse que, também, trata desse assunto.

Demetrio Carneiro


GUERRA CAMBIAL?


Nesta semana, o FINANCIAL TIMES alertou que a guerra cambial é ameaça que não deve ser tratada levianamente. Abaixo o texto publicado, onde é citado criticamente o ministro GUIDO MANTEGA.
Depois de uma série de intervenções cujo objetivo era segurar o valor das moedas, as autoridades econômicas expressaram temores de uma perigosa corrida de baixa na política cambial. É uma ameaça que não deveria ser tratada levianamente.
A guerra cambial ainda não irrompeu, ao contrário do que disse o ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, na semana passada.
As intervenções de Japão, Coreia do Sul, Suíça e Taiwan ao longo dos últimos 12 meses foram modestas. Mas a probabilidade de que as ações sejam renovadas não deveria ser desconsiderada.
Não surpreende que países tentem estimular suas exportações. Mas, da perspectiva global, é contraproducente. Todos os países não podem resolver seus problemas econômicos simultaneamente por meio de exportações.
A perspectiva de nova rodada de relaxamento quantitativo nos Estados Unidos e no Reino Unido, o que geraria pressão de baixa sobre suas moedas, reforçou as tensões.
O fluxo de liquidez excedente em direção aos mercados emergentes pressionaria as taxas de câmbio dos países destinatários.
Não é inconcebível que o resultado seja um círculo vicioso de reduções de taxas de câmbio para derrotar as moedas de outros países.
Caso isso venha a ocorrer, a culpa caberá em medida considerável à China. Como comprovam suas reservas cambiais de quase US$ 2,5 trilhões, Pequim intervém em escala muito maior que qualquer outro governo.
Como maior exportador mundial de bens industrializados, as ações da China têm grande impacto sobre os padrões mundiais de comércio.
Reequilibrar a economia mundial decerto requereria mais que uma flutuação mais livre do yuan. Os superavit comerciais chineses têm outras causas importantes, como baixos salários e elevado índice de poupança.
As taxas de câmbio oferecem solução apenas parcial. Mesmo assim, é melhor que a guerra falsa do câmbio não se torne conflito real.