sábado, 9 de outubro de 2010

ABORTO E CAMPANHA PRESIDENCIAL

Por ter opinião divergente de Serra quanto ao aborto e ser da equipe da coordenação da campanha dele, Soninha Francine, pessoa por quem tenho grande respeito, tem sido pressionada pela mídia a fazer declarações.

Mais simples ir direto à fonte, o Blog Gabinete Soninha Francine, em post de ontem, 8:

Aborto é uma questão delicada e complexa que deveria ser debatida com mais respeito. Apareceu em tudo quanto é sabatina e debate, como é natural que aconteça por ser um tema "polêmico", mas sequer é matéria para decisão presidencial. Também não creio que seja para decisão plebiscitária. É para discussão cuidadosa no Congresso e nos vários foros da sociedade. É comum haver conflitos entre o "foro íntimo" e a visão da questão social; a convicção religiosa e a experiência concreta. Eu sou a favor de mudança na legislação, meu candidato a presidente não é. Agora virou motivo de guerra, troca de acusações - na verdade, sempre foi. Até por isso acredito que seu efeito eleitoral está sendo bastante superestimado. Os documentos sobre esse assunto, os sites contra aborto, os vídeos com pronunciamentos de religiosos e as correntes circulam já há bastante tempo. Por que teriam causado mudança de opinião em cima da hora? O que realmente é relevante discutir, em relação à candidata do governo, é mais um caso em que se tenta reescrever o passado. Se ela mudou de opinião, ou se não mudou mas vai respeitar a que parece ser a opinião da maioria, é compreensível. Mas ela busca adaptar o discurso às circunstâncias e negar a posição anterior - e isso já aconteceu várias vezes. O próprio presidente, tido como muito "autêntico", também muda o discurso conforme a plateia. Ora se coloca como um baluarte anti-capitalismo, ora diz que "precisou um operário ensinar as elites a fazer capitalismo". :oP

Soninha coloca as coisas com muita lucidez e propriedade. A começar pelo fato de “aborto” não ser matéria de competência executiva e sim legislativa. O presidente fará ou deixará de fazer por conta de decisão do Congresso Nacional. Os candidatos a deputado federal e senador é que, muito habilmente, se esquivaram do debate.

De qualquer forma, penso eu, a opinião pessoal de um candidato a presidente não deveria ser matéria de filtro. A questão é questão de Estado e deve ser vista dessa forma. Posso até admitir que uma poderosa bancada religiosa se una e force um lei claramente restritiva. Ai não teremos mais um Estado laico e sim religioso, mas enquanto isso não ocorrer o Estado é laico e deve se movimentar nesse sentido. As objeções contra o aborto são religiosas. O SUS deve sim fornecer legalmente a opção de “aborto” às mulheres que assim o quiserem. É direito delas. As que são religiosas que façam o que já fazem: Não façam.

Demetrio Carneiro