quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O POPULISMO COMO PONTO DE INFLEXÃO

      Ontem a política econômica sofreu um ponto de inflexão. A texa Selic recuou. Certamente haverá todo tipo de apoiamento, pois o circo já estava montado.

     Sintomática dessa inflexão não foi apenas a manifestação "espontânea" frente ao BC, mas a passeata pelo centro de Brasília e a recepção dos manifestantes pela presidente, com direito a entrega de manifesto contra a taxa de juros e mais gastos sociais, promessas de amor mútuo e tudo mais. Dilma se aproxima dos movimentos sociais. Pelo menos dos que são financiados e suportados pelo Estado.

     Após quatro mandatos presidenciais onde, por tentativas envolvendo erros e acertos, a Política de Estabilidade foi posta à prova, nesse quinto mandato o novo norte será o populismo desenvolvimentista que, por sua natureza, não tem compromisso com a Estabilidade, mas com os resultados eleitorais.

     Não é preciso esperar pela Ata do BC para saber o que houve, principalmente num dia onde o Orçamento de 2012, ano eleitoral num governo nitidamente envolvido em lógicas de ciclo econômico-político, confirma a entrega do salário mínimo em´um nível de correção, despesa a mais de R$ 21 bi,que certamente terá forte impacto fiscal, mas impacto maior ainda nas expectativas dos agentes econômicos, inclusive trabalhadores. De outro lado os sinais desse momento econômico são bem claros e não dão tanta margem a interpretações otimistas sob o controle do processo inflacionário. O BC, pressionado politicamente, atravessou o estreito limite entre a aventura e a prudência, já que o governo não parece muito interessado em entregar de fato o controle fiscal que prometeu, embora faça juras diárias.

    A questão da inflação tem forte componente nas expectativas e o recado passado já foi suficientemente claro: Vamos continuar flexibilizando tudo, desde que não comprometa um piso mínimo de crescimento. Se houver um ganho político a se realizar, por que não?

     Presa nos mesmos compromissos ideológicos do nacional-desenvolvimentismo a oposição certamente ficará neutralizada e não se dará conta do mais óbvio que foi a criação do fato político, da mudança de foco, do tirar da cena a questão da corrupção e do patrimonialismo e trazer para ela o debate do desenvolvimento. A agenda política foi alterada pelos três fatos em paralelo: Redução da taxa Selic, confirmando a promessa de campanha de Dilma. Apresentação do Orçamento de 2012, entregando o salário mínimo fortemente reajustado e um pacote de programas socias reforçados pelo Brasil Sem Miséria, novo carro-chefe midiático e pelo programa Minha Casa, somando ambos algo por volta de R$ 30 bi. O novo PPA tem mais Brasil sem Miséria e mais 2 milhões de residências, sendo 1,2 milhões para rendas familiares menores de R$ 1,6 mil.

      O pacote desenvolvimentista, e nele bom bom incluir a noção de piso de crescimento que deu origem à inflexão e à pressão política à qual o BC respodeu favoravelmente, está posto na mesa e aparentemente o populismo econômico será o novo personagem convidado para a festa. Mantega está com tudo e, talvez, já possa alimentar ambições mais elevadas.

      Incapaz de qualquer proposta mais consistente para o desenvolvimento e amarrada na mesma raíz populista é provável que a oposição assista não no camarote, mas lá da ribalta, bem no segundo plano, os desfiles dos próximos anos.

Demetrio Carneiro