sexta-feira, 2 de setembro de 2011

INFLAÇÃO E AUTONOMIA DO BC: A LEITURA SIMPLIFICADORA DO POPULISMO ECONÔMICO E SUAS POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS

        Antes que possa parecer que se trava uma batalha indevida por conta  de meio ponto percentual a menos na Selic, e independentemente do debate sobre o fim da autonomia do BC,  é preciso esclarecer algumas coisas.
     
       A leitura populista da economia, por ser ideológica, gera necessariamente um pensamento simplificador da realidade. Num ambiente onde todas as partes se falam pode não ser uma boa solução pensando nos termos de políticas públicas que sejam eficientes e pensando que nesse caso ser eficiente significa entregar o prometido.
      Em termos desse momento é preciso ter em vista que o populismo econômico, com o pensamento focado na sobrevivência política, quando se trata de escolher entre crescimento e inflação, sempre tende a escolher a última opção. De fato meio ponto percentual é pouco e por si próprio e,talvez, não altere muito as coisas, como visivelmente é a esperança de alguns, além  de enviar poderosas imagens políticas, como é a esperança de outros. Mas provavelmente seja esse o problema, já que parte substancial da política monetária tem a haver com expectativas e a sinalização é de que houve uma clara escolha no dilema. Enfim, fora do espaço populista o que a escolha que foi feita ontem indica é uma postura política de tolerância com a inflação num quadro extremamente incerto. Normalmente a conseqüência é mais inflação.
      Há evidentes pontos de incerteza como a questão dos    reajustes salariais do funcionalismo público. Embora Dilma tenha sinalizado uma intolerância com novas demandas, nem sempre o gestor pode decidir pelo agente político, quando o gestor também é o agente político.
      Dito dessa forma cabe comentar a notícia publicada hoje na Folha de São Paulo: Revolta do Supremo deve forçar Dilma a refazer Orçamento.
      Ano passado o legislativo concedeu-se generosíssima e induscutida correção de vencimentos. De forma amiga deu uma carona ao executivo, que também não discutiu. De forma pirracenta deixou o legislativo de fora da bondade. Ao longo do ano houve embates entre legislativo e judiciário e foi uma forma de puxar a orelha dos senhores juízes. Que basicamente silenciaram. Mas não por muito tempo. Agora a fatura está sendo apresentada. Como o judiciário tecnicamente é outro poder nada aponta uma discussão fácil, principalmente após os auto-aumentos dos outros dois poderes.
       Seja como for a cultura brasileira ainda parece ter registrada a cultura da indexação salarial. E uma inflação na casa dos 7% pode representar perdas severas no poder de compra, principalmente na área mais sensível dos alimentos.
      As notícias de ontem informam que Dilma está particularmente atenta aos efeitos da inflação sobre as camadas de população mais pobre.
        É aguardar e observar.
       Quanto à questão da autonomia do BC, nós mesmos já havíamos defendido, bem antes das eleições, aqui mesmo no Blog e em textos escritos na Revista Política Democrática, que o governo devia mirar numa meta de crescimento e que deveria haver meios institucionais de coordenar a ação entre a Fazenda, na questão da política fiscal e o BC, na questão da política monetária. Infelizmente coordenação institucional tem nada a haver com subordinação e pressões laterais “espontâneas” ou diretas, como deve ter sido a reunião entre Dilma e o presidente do BC, Tombini, antes da decisão do corte. Muito provavelmente não foi um convite para o chá das cinco.
Escolher entre coordenar e subordinar marca a distancia entre politicas públicas responsáveis e sustentáveis e o populismo econômico.
Como, e de fato, a coordenação institucional não é um bicho de sete cabeças, a conclusão só pode ser a de que o ato de subordinar o BC ao Ministério da Fazenda e à Presidência é um ato pensado e intencional, correspondendo de fato a uma dada forma de perceber a economia, o papel do Estado e a questão do desenvolvimento.
Não se trata de improviso. Como dissemos em outro post não estamos lidando com amadores.
Demetrio Carneiro