Os fatos relatados pelo Financial Times apresentam relações, antes apenas imaginadas por nós, e agora evidenciadas na mídia, entre os serviços de inteligência da Inglaterra, dos EUA e a quase extinta ditadura na Líbia. Falta localizar o ditador e trazê-lo à justiça.
Ingleses pegam mais leve e procuram confundir as coisas. Americanos, a CIA, são mais diretos e assumem que o importante a garantir o público interno. Fica implícito que sustentar ditaduras é o custo da defesa dos EUA.
É interessante observar que, se o mundo mudou, a CIA ainda mantém a mesma linha de lógica da guerra fria. Naquele período ditaduras eram muito funcionais para ambos os lados, EUA e URSS, na medida em que apoiar aquelas elites e sua política repressiva era uma forma de manter essas populações sob o status quo de cada bloco. Em ambos os blocos conflito distributivo e democracia se eram soluções para a população local eram problemas para o sistema.
Todas essas décadas de guerra fria impuseram uma lógica de domínio e hegenomia viabilizadora dessas ditaduras. Inclusive a nossa, aqui no Brasil. Encerrada a guerra fria vai ficando muito difícil manter esse padrão e isso pode enfraquecer os laços entre os regimes ocidentais e as ditaduras, apesar da leitura da CIA sobre a permanência de outra guerra, mas vamos considerar que há um jogo interno de poder nos EUA e que a CIA precisa de guerras para lutar e permanecer enquanto burocracia poderosa e rica. Perdendo sua funcionalidade essas ditaduras vão perdendo apoio externo e vão esvaziando internamente. Parte das elites, buscando a sua sobrevivência, tende a abandonar os antigos núcleos de poder e a compor com os desafiadores, como vem ocorrendo.
As administrações civis, não os serviços de inteligência, é que pagam o custo, que pode se transformar em votos, e não parecem mais interessadas no crescente custo político de manter ditaduras, mesmo que seja para lutar na guerra contra o terrorismo. Até porque talvez tenham percebido que, inclusive nos outros países, a democracia é a melhor forma de evitar o terrorismo.
Nota: À vista desse processo de abandono das ditaduras seria bastante produtivo avaliar o papel da política externa brasileira no apoiamento a regimes autoritários. Não esquecendo que o ditador deposto já foi nosso "amiginho". Quer dizer, nem vai dar para o PT tirar uma casquinha dessa realação entre os serviços de informação e Kadhafi.
Demetrio Carneiro