terça-feira, 20 de setembro de 2011

ENTÃO, MANTEGA, VAMOS RESGATAR A EUROPA?

      Dois textos publicados hoje no Financial Times merecem destaque. O primeiro é de autoria de Yau Yang, diretor e professor do Centro para Pesquisa Econômica da China na Universidade de Pequim. O segundo é uma resposta direta ao primeiro e de autoria de Kerry Brown, ligado a um programa de pesquisas das relações Europa-China, da Comunidade Européia.

      Evidentemente ambos entendem do que estão falando. No primeiro plano um diálogo sobre o futuro papel da China. Enquanto Yang dá todos os sinais da tradicional prudência chinesa e sinaliza de forma muito clara que não se sentem preparados e que não irão assumir as dores - $$$$ - do mundo, principalmente quando o problema europeu é muito mais político do que econômico, embora tenham todo o interesse estratégico em proteger o Euro, proteger seus mercados consumidores e se proteger de medidas “defensivas” com relaçao a seus produtos. Contudo frente a uma falta de garantias efetiva da Alemanha e da França, não se aventuram. Brown afirma que esse é o momento.de uma “oportunidade de ouro” e que resgatar, esse é o termo: resgate, o Euro seria um movimento de grande potência. Enfim, uma ótima jogada de marqueting estratégico e confirmação de poder real.

      Segundo Yang a CE já torrou na Grécia €120 bi, o FMI outros €110 bi. Então se pergunta se a China deveria mesmo torrar todo esse dinheiro para ser do primeiro mundo? Daí a abertura do artigo:

“A expectativa de que a China pode ir fundo e resgatar o euro, na sua hora de maior necessidade é muito alta. O Premier Wen Jiabao disse na semana passada, numa reunião do Fórum Econômico Mundial, que 'a China está disposta a dar uma mão amiga, e vamos continuar a investir lá.' Mas aqueles que esperam que a China ofereça algo mais do que uma assistência simbólica em breve serão desapontados.”

      Mas é em sua finalização que a lógica se completa:

“O resultado mais provável, portanto, é que a China corra um pequeno risco de com suas vastas reservas estrangeiras para resgatar o Euro. Poderá comprar a pequenas quantidade simbólicas del obrigações da Europa do sul, como um ensaio de compromisso com o futuro da UE. Mas, no final, a China é um outsider. Ele sabe que a América está se retirando dos assuntos europeus, mas ainda não está pronto para tomar seu lugar. Como se vê a partir de Pequim, o Euro é um assunto europeu. E os europeus terão de acertar entre si seus próprios erros.”. Enfim, um dia ainda seremos hegemônicos, mas não estamos com pressa.

      O canto da sereia, segundo Yang, envolve até mesmo promessas para o cargo principal do FMI. Cargo que ele prontamente aponta como não eficiente enquanto o RMB não for completamente conversível. Pronto, um forte argumento que liquida os sonhos de Mantega estar chefiando algum órgão multilateral algum dia no futuro, antes da plena conversibilidade do Real. Aliás é à luz de todo esse debate que a recente fala do ministro sobre a “ajuda” a europa deve ser avaliada: Apenas uma outra jogada de mídia e auto-promoção.


Demetrio Carneiro