terça-feira, 13 de setembro de 2011

ECONOMIA COMO UM SISTEMA E O RISCO INFLACIONÁRIO

      Num movimento lateral, em decorrência tanto da crise, como da decisão de reduzir politicamente a taxa Selic, o dólar apresenta sinais de apreciação e previsões já há de que o novo piso é R$ 1,70, com expectativas de chegar a R$ 1,75 em 2012 e R$ 1,80 em 2013.

      Para o governo Dilma reter a apreciação do real e mesmo reverter a apreciação é um forte ganho político, frente ao setor industrial, exportador - a se conferir o ganho nas exportações - ou não – a se conferir os ganhos na redução das importações -, e também frente aos setores mais críticos das políticas econômicas, tanto na oposição, como no grupo de pensadores e apoiadores da atual gestão. Com efeito, em paralelo à crítica da alta taxa Selic a outra grande crítica vinha da apreciação do real.

      Olhando assim não faltou senso de oportunidade e ousadia em cortar exatamente agora a Selic e foi um movimento bem sucedido politicamente. Que o diga o silêncio da oposição, agora frente a mais um dilema no jogo sucessório de 2014.

     O que o atual modelo de planejamento estratégico governamental, já está bem claro que é outro modelo de pensamento diferente do de Lula, não controla é a inflação. Da mesma forma que a apreciação cambial trouxe ganhos políticos ela também trará conseqüências ao neutralizar ganhos da queda de preços das commodities. Nesse sentido a queda do preço das commodities, que poderia ser um componente de redução da pressão inflacionária mundial, internamente não gera resultados, pois é compensado pela apreciação do dólar. Mudou a equação.

      Todo o risco do atual planejamento é a inflação e num país que á teve nessa área experiências traumáticas. Desde o impacto do sucesso do Real no controle da alta/altíssima inflação, os sucessivos presidentes, aparentemente, sempre escolheram perspectivas mais conservadoras, onde o gasto público sempre em expansão, basta acompanhar o aumento real, em valores monetários, da arrecadação tributária nos últimos anos, precisava ser mediado pela taxa Selic de formas a controlar o aumento da inflação. O atual governo pensa diferente e colocou suas cartas na mesa. O jogo está feito e tem seus ganhos e perdas. Ainda é muito cedo para maiores avaliações e o debate ainda está mais no campo da teoria.

     O que é certo é que na economia do setor público normalmente há ganhos associados a perdas. O melhor dos mundos da política pública estaria no espaço onde ninguém perde, mas não parece ser esse o caso se o processo inflacionário se mantiver consistentemente alto. Certamente faz parte do plano de governo a consideração de que o forte aumento do salário mínimo, associado à confirmação dos gastos sociais, que escaparam dos cortes, de alguma forma irá compensar um aumento do ritmo inflacionário, já que são fortemente indexados na prática. 

      Todo o problema com esse estilo de pensamento é a questão das expectativas dos agentes. Na sua lógica keinesiana imaginam que o preponderante será o espírito animal e que o clima geral de sucesso irá impactar positivamente a economia, mesmo com um ritmo de inflação mais ampliado. Para nós o problema vai estar na racionalidade dos agentes econômicos que percebendo a forte indexação de componentes importantes do gasto públicos diretamente ligados à formação de renda, já cientes da indexação dos preços públicos com base na inflação passada, talvez decidam também indexar seus preços. Esta é uma variável exógena ao modelo governamental e sobre ela o governo não tem qualquer controle.

    Algumas lições ainda não foram completamente absorvidas. Quando a crise começou, em 2008, os economistas e pensadores ligados à corrente keinesiana festejaram o “fim” do controle neo-liberal da economia e o sinal verde do gasto foi aceso. Algumas dezenas de trilhões de dólares depois o mundo continua com problemas, pois gastar e gastar não resolveu a problema da expectativa dos agentes. Para a lógica do gasto dar certo seria necessário que os agentes econômicos fossem como os peixinhos de aquário: Uma vez posta a ração eles se atiram a comê-la. Se fosse sempre exatamente assim seria uma maravilha para o Estado como diretor, driver, das economias nacionais. Apenas não é, e o próprio Keynes alertou sobre isso.

      Todo o problema desse modelo é que ele é pensado sem a consideração de que os agentes econômicos podem estar suficientemente informados sobre a aposta na inflação e podem reagir indexando seus preços e ai os custos talvez venham a ser mais altos que os benefícios. Muito em breve isso poderá deixar de ser um problema apenas teórico.

Demetrio Carneiro